A sacolinha plástica que recebemos no supermercado e nas lojas é uma maravilha da tecnologia: sua espessura não passa alguns mícrons, pesa menos de cinco gramas e pode suportar uma carga até duas mil vezes o seu peso. Essa leveza e resistência, porém, é um horror que desfigura as paisagens e polui os oceanos.
Faz pouco tempo que as sacolinhas plásticas invadiram o mundo do consumo em massa: elas surgiram no começo da década de 1980, nos Estados Unidos. Sua idade não passa, portanto, de quarenta anos. E como fazíamos antes delas existirem?
Antes da chegada das sacolinhas plásticas, as pessoas iam às compras com sua cesta de vime, sacolas de pano ou feitas de crochê e macramê (uma técnica de tecer com fios trançados). Veja as imagens a seguir.
Ir às compras levando um cesto de vime ou uma sacola de palha indica um consumo pequeno, parcimonioso. O que pode caber em um cesto ou sacola? Que peso o comprador, em geral uma mulher, suporta levar a pé até sua casa?
Além disso, as pessoas comuns compravam o estritamente necessário e aquilo que não era possível produzir em casa como sal, açúcar e arroz ou produtos industrializados como tecido, agulha e linha para confeccionar roupas.
Lógico, esse hábito não existia entre os endinheirados que consumiam sem economizar e dispunham de carregadores e carruagens para levar suas compras.
A primeira mercearia self-service
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ocorreu uma grande transformação nos hábitos de consumo. Mudança impulsionada pelos Estados Unidos, a grande potência capitalista que emergiu após a guerra.
Surgiram os mercados com uma grande novidade: o autoatendimento (self-service). O comprador não era mais atendido no balcão pelo vendedor a quem entregava a lista de compras. Esperava o balconista escolher e pesar cada produto. Isso tudo mudou. Agora, o comprador podia percorrer os corredores recolhendo o que desejava. Isso estimulou a compra por impulso – uma fonte inesgotável de lucros para as empresas.
A primeira mercearia self-service foi a Piggly Wiggly, fundada em 1916, em Memphis, Tennessee, nos Estados Unidos. Foi um enorme sucesso. No ano seguinte, o fundador patenteou o conceito de “loja self-service” e logo vendeu franquias do negócio pelo país.
Os clientes da Piggly Wiggly entravam na loja por uma catraca (de madeira) e caminhavam por quatro corredores para ver os 605 itens da loja vendidos em pacotes e organizados em departamentos, e com os preços já marcados em cada um. Depois passavam no caixa, que registrava as compras.
E como carregavam suas compras? As sacolinhas plásticas ainda não existiam.
Veja a foto a seguir e repare nos detalhes.
Os carrinhos de supermercado foram introduzidos pela primeira vez no mundo em 1936. A invenção prática foi pensada por Sylvan Goldman, um empresário e inventor de Oklahoma, nos Estados Unidos. Além de facilitar as compras, o carrinho era outro estímulo ao consumo por impulso. As compras, literalmente, não pesavam mais no braço do consumidor. Agora, elas deslizavam suavemente e o comprador ia enchendo o carrinho sem grande esforço.
Onde levar as compras?
Os supermercados e os carrinhos se espalharam pelos Estados Unidos e grandes capitais europeias. No Brasil, levou algum tempo para eles surgirem. Aqui, o primeiro supermercado reproduzindo o modelo americano foi o “Sirva-se”, inaugurado em São Paulo, em agosto de 1953. O seu fundador, Mário Wallace Simonsen, era um dos mais importantes empresários do Brasil. A rede Sirva-se foi adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar, em 1965.
O movimento nos supermercados aumentou mudando os hábitos de consumo. Agora eles dispunham de vários caixas para registrar as compras. E como elas eram transportadas pelos clientes? Repare nas fotos a seguir.
Finalmente, a sacolinha plástica!
O polietileno, a substância usada para fazer sacolas plásticas, já era usado desde a década de 1930 para fazer cabos telefônicos. Derivado do petróleo e do gás natural, o polietileno ganhou maior uso comercial a partir da década de 1970 quando passou a ser aplicado em garrafas de água e refrigerantes, mangueiras de água, garrafas térmicas, frascos de medicamentos, cosméticos, alimentos etc.
A invenção da sacola plástica em sua forma moderna é geralmente atribuída ao engenheiro sueco Sten Gustaf Thulin que, em 1961, inventou um processo para fabricar uma sacola em uma única peça e teve a ideia de fazer um furo nela formando as alças. Em 1965, a empresa sueca Celloplast patenteou o modelo em que se baseiam todas as sacolas plásticas modernas.
Nascia a sacolinha plástica que, na década de 1980, espalhou-se pelos mercados, supermercados, padarias, farmácias e lojas de todo mundo. Mais baratas, elas rapidamente substituíram sacos de papel que podiam custar até 4 vezes mais do que uma sacola plástica.
A sacolinha plástica inundou o mundo, literalmente: disponível em abundância aos consumidores (quantas pessoas pegam muito mais do que precisam?) e poluindo mares e oceanos. Em pouco mais de dez anos, veio a denúncia alarmante: em 1997, foi vista uma enorme mancha de lixo flutuante no oceano Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia. Era uma massa de lixo plástico.
Muitos países começaram uma campanha pela redução, reciclagem ou mesmo proibição do uso do plástico, começando pelas sacolinhas. Em 2002, Bangladesh foi o primeiro a proibir as sacolas plásticas, após descobrir que elas levavam ao entupimento dos canos de esgoto durante inundações. Outros países começaram a seguir o exemplo.
Para quem pensa ser difícil resolver esse problema, veja, na foto abaixo, a solução adotada no Butão, um país asiático na cordilheira do Himalaia. Nas escolas butanesas, as crianças aprendem a fazer dobraduras com páginas de jornais e revistas velhas para produzirem sacos de papel de diferentes tamanhos. Esses sacos são depois doados ao comércio local e servem para acondicionar produtos secos como artigos de papelaria, de higiene (creme dental, sabonete, shampoo etc.), medicamentos, alimentos e outros.