Como fazíamos sem a sacolinha plástica?

Como fazíamos sem a sacolinha plástica?

A sacolinha plástica que recebemos no supermercado e nas lojas é uma maravilha da tecnologia: sua espessura não passa alguns mícrons, pesa menos de cinco gramas e pode suportar uma carga até duas mil vezes o seu peso. Essa leveza e resistência, porém, é um horror que desfigura as paisagens e polui os oceanos.

Faz pouco tempo que as sacolinhas plásticas invadiram o mundo do consumo em massa: elas surgiram no começo da década de 1980, nos Estados Unidos. Sua idade não passa, portanto, de quarenta anos. E como fazíamos antes delas existirem?

Antes da chegada das sacolinhas plásticas, as pessoas iam às compras com sua cesta de vime, sacolas de pano ou feitas de crochê e macramê (uma técnica de tecer com fios trançados). Veja as imagens a seguir.

Mulheres escolhem produtos na carroça do vendedor. Como vão levar suas compras? Talvez nos bolsos dos vestidos, como fez uma delas? Mercado de rua em Paris, França, c. 1880.

Mulheres fazem compras de frutas e aves: onde elas levam suas mercadorias? Camponesa alemã, em Hamburgo (à esquerda), francesa, em Paris (à direita), gravuras de 1880.

Escravas quitandeiras no Rio de Janeiro. Como seus produtos estão expostos e como são transportados? Foto de Marc Ferrez, 1875.

No início do século XX, a cesta e a sacola de vime continuavam insubstituíveis para levar as compras. Mulheres no mercado caipira, na Rua 25 de Março, São Paulo, 1910. Foto de Vicenzo Pastore.

Mulher com sacola de vime e vendedoras de verduras com suas caixas na cabeça, São Paulo, 1910. Foto de Vicenzo Pastore.

Ir às compras levando um cesto de vime ou uma sacola de palha indica um consumo pequeno, parcimonioso. O que pode caber em um cesto ou sacola?  Que peso o comprador, em geral uma mulher, suporta levar a pé até sua casa?

Além disso, as pessoas comuns compravam o estritamente necessário e aquilo que não era possível produzir em casa como sal, açúcar e arroz ou produtos industrializados como tecido, agulha e linha para confeccionar roupas.

Lógico, esse hábito não existia entre os endinheirados que consumiam sem economizar e dispunham de carregadores e carruagens para levar suas compras.

A primeira mercearia self-service

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ocorreu uma grande transformação nos hábitos de consumo. Mudança impulsionada pelos Estados Unidos, a grande potência capitalista que emergiu após a guerra.

Surgiram os mercados com uma grande novidade: o autoatendimento (self-service). O comprador não era mais atendido no balcão pelo vendedor a quem entregava a lista de compras. Esperava o balconista escolher e pesar cada produto. Isso tudo mudou. Agora, o comprador podia percorrer os corredores recolhendo o que desejava. Isso estimulou a compra por impulso – uma fonte inesgotável de lucros para as empresas.

A primeira mercearia self-service foi a Piggly Wiggly, fundada em 1916, em Memphis, Tennessee, nos Estados Unidos. Foi um enorme sucesso. No ano seguinte, o fundador patenteou o conceito de “loja self-service” e logo vendeu franquias do negócio pelo país.

Uma elegante compradora examina frutas e legumes em um supermercado da Piggly Wiggly. Foto de 1916.

Os clientes da Piggly Wiggly entravam na loja por uma catraca (de madeira) e caminhavam por quatro corredores para ver os 605 itens da loja vendidos em pacotes e organizados em departamentos, e com os preços já marcados em cada um. Depois passavam no caixa, que registrava as compras.

E como carregavam suas compras? As sacolinhas plásticas ainda não existiam.

Veja a foto a seguir e repare nos detalhes.

Clientes do supermercado Piggly Wiggly fazem fila para passar no caixa que, na época, era somente um. Repare à esquerda, as cestas de vime: serviam como “carrinhos” para colocar as compras. Comprava-se pouco: note o embrulho levado pelo comprador que passa pela catraca, o pacote de papel e uma latinha levados por outros compradores na fila.

Os carrinhos de supermercado foram introduzidos pela primeira vez no mundo em 1936. A invenção prática foi pensada por Sylvan Goldman, um empresário e inventor de Oklahoma, nos Estados Unidos. Além de facilitar as compras, o carrinho era outro estímulo ao consumo por impulso. As compras, literalmente, não pesavam mais no braço do consumidor. Agora, elas deslizavam suavemente e o comprador ia enchendo o carrinho sem grande esforço.

O carrinho de supermercado surgiu em 1936 e a adesão foi imeditata dos consumidores e das empresas. Foto de 1936.

Onde levar as compras?

Os supermercados e os carrinhos se espalharam pelos Estados Unidos e grandes capitais europeias. No Brasil, levou algum tempo para eles surgirem. Aqui, o primeiro supermercado reproduzindo o modelo americano foi o “Sirva-se”, inaugurado em São Paulo, em agosto de 1953. O seu fundador, Mário Wallace Simonsen, era um dos mais importantes empresários do Brasil. A rede Sirva-se foi adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar, em 1965.

O movimento nos supermercados aumentou mudando os hábitos de consumo. Agora eles dispunham de vários caixas para registrar as compras. E como elas eram transportadas pelos clientes? Repare nas fotos a seguir.

“The best of everything for less” diz a placa nesse supermercado estadunidense, em foto de 1960. Repare quantos caixas para atender os clientes e as pilhas de caixas e sacos de papel para acondicionar as compras

Uma família sai do supermercado carregando sacos de papel cheios de mantimentos. A sacolinha plástica ainda não tinha surgido. Foto de 1960.

Neste supermercado francês, as compras passam pela esteira do caixa. Foto de 1960. Como os compradores vão levar suas compras? Veja a próxima foto.

Detalhe da foto anterior: o comprador tem no braço uma sacola de barbante e, ao fundo, a mulher ajeita suas compras em uma sacola de crochê.

Finalmente, a sacolinha plástica!

O polietileno, a substância usada para fazer sacolas plásticas, já era usado desde a década de 1930 para fazer cabos telefônicos. Derivado do petróleo e do gás natural, o polietileno ganhou maior uso comercial a partir da década de 1970 quando passou a ser aplicado em garrafas de água e refrigerantes, mangueiras de água, garrafas térmicas, frascos de medicamentos, cosméticos, alimentos etc.

A invenção da sacola plástica em sua forma moderna é geralmente atribuída ao engenheiro sueco Sten Gustaf Thulin que, em 1961, inventou um processo para fabricar uma sacola em uma única peça e teve a ideia de fazer um furo nela formando as alças. Em 1965, a empresa sueca Celloplast patenteou o modelo em que se baseiam todas as sacolas plásticas modernas.

Nascia a sacolinha plástica que, na década de 1980, espalhou-se pelos mercados, supermercados, padarias, farmácias e lojas de todo mundo. Mais baratas, elas rapidamente substituíram sacos de papel que podiam custar até 4 vezes mais do que uma sacola plástica.

A sacolinha plástica em um supermercado em Roma, Itália, 1989.

A sacolinha plástica inundou o mundo, literalmente: disponível em abundância aos consumidores (quantas pessoas pegam muito mais do que precisam?) e poluindo mares e oceanos. Em pouco mais de dez anos, veio a denúncia alarmante: em 1997, foi vista uma enorme mancha de lixo flutuante no oceano Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia. Era uma massa de lixo plástico.

Um albatroz morto com plásticos no estômago em uma ilha do Havaí. Calcula-se que, anualmente, 100.000 seres marinhos (peixes, focas, tartarugas etc.) são vítimas de estrangulamento, asfixia ou ferimentos causados por plásticos.

Muitos países começaram uma campanha pela redução, reciclagem ou mesmo proibição do uso do plástico, começando pelas sacolinhas. Em 2002, Bangladesh foi o primeiro a proibir as sacolas plásticas, após descobrir que elas levavam ao entupimento dos canos de esgoto durante inundações. Outros países começaram a seguir o exemplo.

Para quem pensa ser difícil resolver esse problema, veja, na foto abaixo, a solução adotada no Butão, um país asiático na cordilheira do Himalaia. Nas escolas butanesas, as crianças aprendem a fazer dobraduras com páginas de jornais e revistas velhas para produzirem sacos de papel de diferentes tamanhos. Esses sacos são depois doados ao comércio local e servem para acondicionar produtos secos como artigos de papelaria, de higiene (creme dental, sabonete, shampoo etc.), medicamentos, alimentos e outros.

Saco feito com página de jornal velho: um jeito correto de reaproveitar material usado e não poluir o meio ambiente. Butão, 2017.

Compartilhe =]

Compartilhar no Facebook Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Pocket Compartilhar no Twitter Compartilhar no LinkedIn