Antes, mas muito antes de surgir o papel higiênico, as pessoas usaram uma grande variedade de materiais naturais para a higiene anal: lascas de madeira, conchas, peles de animais, feno, folhas, areia e, óbvio, a água de rios e lagos. Em terras mais frias, a neve era usada. Na América pré-hispânica, o meio comum de limpeza eram espigas de milho, e o costume se manteve até o século XVIII, quando os jornais se tornaram disponíveis.
Na Índia, na África e nas terras árabes, limpar-se usando diretamente a mão esquerda com água ainda é muito comum. A mão é lavada logo depois.
As esponjas romanas
Na Roma antiga, os banheiros públicos eram abastecidos com uma esponja marinha presa à ponta de um bastão. Chamadas de xilospongio ou tersoriuns, elas ficavam em um balde com água salgada ou vinagre, e eram compartilhadas pelas pessoas que usavam o banheiro público.
Há historiadores que discordam do uso do tersorium como instrumento de higiene, afirmando que essa tese não se baseia em fontes confiáveis. Segundo eles, o tersorium serviria como escova de banheiro para limpar as latrinas.
Em meados do século I, o filósofo Sêneca relatou que um gladiador germânico havia cometido suicídio com um tersorium. O gladiador germânico se escondeu na latrina de um anfiteatro e enfiou a vara de madeira em sua garganta morrendo engasgado. Sêneca comenta horrorizado que o gladiador poderia ter escolhido morrer com bravura usando a espada, jogando-se no mar ou de um penhasco, ou viver son uma “escravidão limpa” mas preferiu a morte mais indigna e suja.
Os romanos mais ricos da época usavam lã e água de rosas.
Pequenos fragmentos de tecido encontrados em um esgoto em Herculano, Itália, uma das cidades soterradas pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C., poderiam ter sido usados para limpeza íntima.
Bastões chineses
Em 1992, arqueólogos descobriram bastões de higiene de dois mil anos, em latrinas de Xuanquanzhi, uma antiga base militar da dinastia Han na China que existia ao longo da Rota da Seda.
Os instrumentos, cortados de bambu e outras madeiras, pareciam espátulas. As extremidades estavam embrulhadas em pano e continham vestígios de matéria fecal preservada. Quando analisados, foram encontrados ovos de parasitas como lombriga, Tênia e outros.
Chineses: pioneiros no uso do papel higiênico
Embora o papel tenha se orginado na China no século II a.C., o primeiro uso registrado de papel para limpeza é do século VI, descoberto nos textos do estudioso Yen Chih-Thui. Em 589 d.C., ele escreveu: “Papel com citações ou comentários dos Cinco Clássicos ou nomes de sábios, não me atrevo a usar para fins sanitários”.
No século VI, o papel higiênico era amplamente utilizado na China. No início do século XIV, os chineses já fabricavam papel higiênico em grande quantidade, cerca de 10 milhões por ano, em pacotes de 1.000 a 10.000 folhas. Em 1393, milhares de folhas de papel perfumadas também foram produzidas para a família imperial do imperador Hongwu.
Papel velho para serviço sujo
Folhas de jornal e catálogos de lojas serviram como papel higiênico por muitos anos (e ainda existem nos lugares mais pobres).
O catálogo da Sears, uma grande loja de departamentos dos Estados Unidos, e o Almanaque Farmers eram “reciclados” no banheiro. O Almanaque do Fazendeiro vinha com um furo no canto superior esquerdo para passar um barbante e pendurá-lo perto da privada.
O uso do catálogo da Sears declinou na década de 1930, quando a Sears começou a imprimir em papel brilhante revestido de argila (tornando-o menos absorvente). Muitas pessoas reclamaram.
Em 1857, quando o papel higiênico foi inventado, todo mundo achou um absurdo. Onde já se viu, gastar dinheiro com um papel que serve exclusivamente para ser sujo e jogado fora?
Papel higiênico moderno
Em 1857, o primeiro papel higiênico foi desenvolvido por Joseph Gayetty de Nova York. O Gayetty’s Medicated Paper era vendido em pacotes de 500 folhas por US$ 0,50. Continha aloe e era comercializado como um produto terapeutico para curar feridas e prevenir hemorróidas. Seu nome estava impresso em cada folha.
No final do século, outras empresas de papel higiênico surgiram. O papel era grosseiro e áspero. Em 1890, a Scott Paper Company da Filadélfia introduziu papel higiênico em rolo e rapidamente se tornou o principal produtor de papel higiênico do país. Seu papel de nome Waldorf dominou o mercado americano e europeu por décadas.
Em 1942 a St. Andrew’s Paper Mill, na Inglaterra, começou a vender o primeiro papel higiênico de duas camadas. Hoje, o papel higiênico de duas camadas é o padrão em muitos países.
Em 1954, surgiu papel higiênico colorido, em 1964, o perfumado da Charmin e em 1999, o papel “estruturado”, um processo industrial que tornou o papel mais macio, absorvente e mais resistente.
Uma polêmica sem fim
Qual é a orientação do papel higiênico no suporte: com a ponta para a frente ou atrás do rolo? A questão da orientação é um tema curioso, repetidamente discutido na mídia, e que já foi objeto de estudos sociológicos.
Não há posição certa. A escolha, quando não é casual, responde em grande parte a preferências pessoais ditadas por hábitos ou conforto.
Para você, qual deve ser a orientação do papel higiênico?
Fonte
- Ivy Hui-Yuab Yeh. Early evidence for travel with infectious diseases along the Silk Road: intestinal parasites from 2000 year-old personal hygiene sticks in a latrine at Xuanquanzhi Relay Station in China. Journal of Archaeological ScienceJournal of Archaeological Science, 05 out 2016.
- PONTI, Cristal. All the ways we’ve wiped: the History of toilet paper and what came before. History, 15 abr 2020.