14 Grandes descobertas arqueológicas da América pré-colombiana

14 Grandes descobertas arqueológicas da América pré-colombiana

Chama-se “América pré-colombiana” o período histórico anterior à chegada de Colombo na América, em 1492. O termo é usado para se referir a história de todas as sociedades nativas até o domínio político e cultural dos europeus a partir do século XVI. Em espanhol, costuma ser usada a expressão América pré-hispânica para esse período.

A América pré-colombiana abrange milhares de anos e eventos tão relevantes como as primeiras migrações humanas para o continente, a revolução neolítica e a formação de sociedades complexas como a dos maias, astecas e incas.

As sociedades pré-colombianas desenvolveram-se isoladas das sociedades do Oriente Próximo e da Europa. Elas inventaram calendários, algumas a escrita, fizeram o melhoramento genético de plantas o que gerou o milho e a batata, dominaram conhecimentos de engenharia para erguer construções antissísmicas e sofisticados sistemas de irrigação, desenvolveram uma metalurgia avançada e uma vigorosa produção têxtil.

Construíram templos monumentais, sendo exemplos as zonas arqueológicas dos Andes Centais: Caral, Chavín, Moche, Pachacámac, Tiahuanaco, Cuzco, Machu Picchu e Nazca; e da Mesoamérica: Teotihuacán, Templo Mayor (Tenochtitlán), Tajín, Palenque, Tulum, Tikal, Chichén-Itzá e Monte Alban.

Por isso falar em “grandes” descobertas arqueológicas da América pré-colombiana é difícil. Primeiro, porque são numerosas e a lista estará sempre incompleta. Segundo, porque é preciso definir o que se entende por “grandes” descobertas: não se trata do tamanho de um achado, mas o seu significado para a compreensão de uma sociedade. Para o especialista a descoberta de uma cidade ou de um tesouro é tão relevante quanto descobrir uma ponta de flecha, uma cerâmica pintada ou a impressão de uma pegada humana.

CONTEÚDO

  1. Cultura Clóvis (Estados Unidos)
  2. Monte Verde (Chile)
  3. “Luzia”, Lapa Vermelha (MG)
  4. Serra da Capivara (PI)
  5. Cultura Olmeca (México)
  6. Machu Picchu (Peru)
  7. Linhas Nazcas (Peru)
  8. Chichén Itzá (México)
  9. Tikal (Guatemala)
  10. O Senhor de Sipán, cultura Moche (Peru)
  11. Templo Mayor de Tenochtitlán (México)
  12. A múmia Juanita, a Donzela do Gelo (Peru)
  13. Pinturas rupestres de Cerro Azul (Colômbia)
  14. Mulheres caçadoras da Pré-História (Peru)

1. CULTURA CLÓVIS (ESTADOS UNIDOS)

Pontas de lança feitas de pedra lascada da cultura Clóvis.

Em agosto de 1908, o vaqueiro e ex-escravo George McJunkin descobriu fósseis de bisões gigantes (Bison antiquus) e pontas de lanças em Clovis, Novo México, Estados Unidos. Estas descobertas motivaram pesquisas no local que levaram à descoberta, em 1929, vestígios da cultura indígena mais antiga da América, datada de 13.500 anos, no final da Idade do Gelo.

Chamada de Cultura Clóvis, ela serviu de fundamento para a teoria do povoamento tardio do continente americano. Afirmou-se, então, que a Cultura Clóvis foi a dos primeiros habitantes da América que teriam cruzado o Estreito de Bering, da Sibéria para o Alasca, quando o nível do mar entre os continentes estava baixo.

A partir da década de 1990, novas pesquisas científicas questionaram essa teoria, defendendo a existência de culturas paleo-americanas muito mais antigas. Hoje, datações em carbono-14 demonstraram que a Cultura Clovis não foi a primeira das Américas.

Alguns sítios arqueológicos que revelaram evidências de grupos humanos anteriores à cultura Clóvis são Monte Verde, no sul do Chile e os sítios arqueológicos brasileiros de Lagoa Santa (MG) e Serra da Capivara (PI).

2. MONTE VERDE (CHILE)

Arqueólogos trabalham em Monte Verde, no Chile.

Em 1975, camponeses encontraram, em Monte Verde, no Chile, um osso de Gomphotherium, um gênero de animal ancestral dos atuais elefantes. Pouco tempo depois, foram realizadas escavações no local onde foram descobertos restos de carvão, fragmentos de ossos de animais carbonizados e vários artefatos líticos – vestígios de presencia humana entre 14.800 anos e 14.500 AP (Antes do Presente).

O sítio de Monte Verde revelou ter sido ocupado por cerca de vinte a trinta pessoas. Vestígios de troncos e pranchas cravas no solo mostram que elas ergueram uma estrutura semelhante a uma tenda de seis metros de comprimento, feita de madeira e peles de animais. Duas grandes lareiras (fogueiras) foram construídas para uso da comunidade, provavelmente para fabricação de ferramentas e artesanato.

Foram encontrados restos de 70 espécies de plantas comestíveis e medicinais, parte delas originadas de regiões a 240 quilômetros de distância. Isso sugere que a população de Monte Verde tinha rotas comerciais ou viajava regularmente nesta rede estendida.

A descoberta do sítio arqueológico de Monte Verde mudou o pensamento dos arqueólogos. Mas foi somente em março de 1998, que a Sociedade Americana de Arqueologia, dos Estados Unidos reconheceu Monte Verde como o povoamento mais antigo da América.

3. “LUZIA”, LAPA VERMELHA (MG)

Crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil.

Foi no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, localizado na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, que a missão arqueológica franco-brasileira liderada por Annette Laming-Emperaire descobriu, em 1975, o crânio de mulher, apelidado de Luzia.

O apelido foi dado pelo biólogo Walter Alves Neves, do Instituto de Biocências da Universidade de São Paulo. Ele se inspirou em “Lucy”, o célebre fóssil de Austraolopithecus afarensis de 3,5 milhões de anos achado na Etiópia, no ano de 1974.

O esqueleto (crânio, ossos da coxa e da bacia) foi datado de 11,5 mil anos atrás, e ela deve ter morrido aos 25 anos. Trata-se do esqueleto humano mais antigo encontrado no Brasil e, por isso, é considerada a primeira brasileira.

A análise do DNA mostrou que o código genético do povo de Lagoa Santa é semelhante ao de todos os povos indígenas da América e, neste caso, as feições de Luzia seriam mongoloides (e não negroides como se pensou). O povo de Luzia chegou à América junto com as demais populações que vieram do continente asiático.

4. SERRA DA CAPIVARA (PI)

Pintura rupestre do Parque Nacional da Serra da Capivara.

O Parque Nacional Serra da Capivara, no sul do Piauí, é uma área de maior concentração de sítios pré-históricos do continente americano, contendo a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo e as mais antigas da América, datadas de 17.000 e 25.000 anos AP.

O sítio arqueológico e suas pinturas rupestres foram descobertos em 1973 por uma equipe franco-brasileira sob a direção de Niède Guidon. As pesquisas começaram em 1978 com apoio do governo francês. Na Toca do Boqueirão da Pedra Furada, foram encontradas evidências de uma cultura paleoamericana de 30.000 anos AP.

As descobertas vieram à tona pela primeira vez em 1986, com uma publicação na revista britânica Nature, na qual Niéde Guidon afirmou ter descoberto lareiras e artefatos humanos datados de c. 32.000 AP. Embora a datação tenha suscitado controvérsia, as descobertas na Serra da Capivara revolucionaram a arqueologia pré-colombiana.

Os artefatos encontrados apresentam evidências de presença humana no Nordeste do Brasil já em 20.000 a.C., segundo datações por Carbono-14 e OSL (luminescência estimulada opticamente), e pela análise técnica do conjunto de ferramentas de pedra.

Em 1991, o Parque Nacional Serra da Capivara foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e, em 1993, reconhecido como patrimônio nacional.

5. CULTURA OLMECA (MÉXICO)

Cabeça colossal Olmeca, Villahermosa, México.

Os olmecas são considerados a primeira civilização da Mesoamérica, que floresceu entre 1500 e 400 a.C. na região do Golfo do México. Contudo, ela permaneceu desconhecida dos historiadores até meados do século XIX. Em 1862, a descoberta fortuita de uma cabeça colossal, no estado de Veracruz, México chamou a atenção do antiquário mexicano José Melgar y Serrano. Em 1869 ele publicou uma descrição da escultura. Mas as primeiras escavações científicas e detalhadas de sítios olmecas ocorreram nas décadas de 1930 e 1940.

Não se sabe como os olmecas se autodenominavam. Foram batizados de “olmecas” pelos arqueólogos do século XX que tomaram a palavra do náuatle, a língua dos astecas, significando “povo da borracha”. O termo “povo da borracha” remete para a antiga prática, utilizada desde os olmecas até aos astecas, de extrair látex de uma árvore da região (Castilla elástica).

Acredita-se que foram os olmecas que inventaram a escrita, o conceito de zero, o calendário, a bússola e as divindades mesoamericanas. Organizaram-se em cidades-estado fortemente hierarquizadas.

A arte olmeca expressou-se em estátuas monumentais e pequenas obras em jade. Foram desenterradas até hoje 17 cabeças colossais cujas medidas variam entre 3,4 metros e 1,50 metros de altura. Estima-se que as cabeças maiores pesem mais de 20 toneladas

6. MACHU PICCHU (PERU)

Machu Picchu em foto de 1912 (à esquerda) e atual.

Em 24 de julho de 1911, o explorador norte-americano Hiram Bingham alcançou Machu Picchu, no Peru, a 2.450 metros de altitude, nos Andes. Não era exatamente uma descoberta. Outros exploradores já haviam estado lá. Contudo, foi Bingham a primeira pessoa a reconhecer a importância das ruínas e de anunciá-las ao mundo através da revista National Geographic em abril de 1913. Foi ele, também, que chamou Machu Picchu de “Cidade Perdida dos Incas”.

Hingham escavou diversos lugares de Machu Picchu entre 1912 e 1915. Ele é acusado por suas práticas arqueológicas irregulares e por ter levado para fora do país o material escavado que consta de pelo menos 46.332 peças de cerâmica, ouro, cobre, prata e pedra. A partir de março de 2011 elas começaram a ser devolvidas ao Peru.

Os incas construíram Machu Picchu entre 1450 e 1460. Originalmente foi um santuário religioso mas tornou-se uma das residências de descanso do imperador inca Pachacutec (1438-1472).

7. LINHAS NAZCAS (PERU)

Geoglifo de gato descoberto em 2020, Nazca, Peru

Em 1927, o arqueólogo Paul Kosok durante um sobrevoo pela região de Nazca, no sul do Peru, em busca de solucionar dúvidas de pesquisadores locais, avistou gigantescos desenhos de animais, aves, plantas e formas geométricas traçadas sobre o vasto antiplano árido. Estavam descobertas as chamadas “linhas nazcas”.

As linhas nazcas são geoglifos que recobrem mais de 1000 km2 no deserto. Foram descobertas cerca de 800 linhas. Seus comprimentos são variáveis e algumas podem ter até 275 m de comprimento. As datações de carbono-14, feitas com pedaços de jarras de argila não queimada encontrados perto dos desenhos indicam uma data de aproximadamente 500 anos d.C.

Pesquisadores diversos tentaram descobrir como foram feitas e o porquê de estarem ali. As hipóteses variam: alguns consideram que as linhas marcavam centros de adoração, um calendário astronômico ou eram simplesmente rotas de viagem. Estudos recentes apontam em outras direções, talvez se tratasse de uma rede hidráulica ou um local de rituais aos deuses, mas nenhuma conclusão pode ser dada como definitiva.

Em 2020 foi descoberto o geoglifo de um gato de 36 metros de comprimento. Foi datado de 200 a.C. a 100 a.C. sendo o mais antigo da região.

8. CHICHÉN ITZÁ (MÉXICO)

Pirâmide de Kulkucán, em Chichen Itzá, México, fotografia de 1860.

Pirâmide de Kulkucán depois de restaurada, Chichen Itzá, México.

Chichén Itzá foi uma enorme cidade pré-colombiana construída pelos maias no estado de Yucatán, México. Depois de um tempo de apogeu, a cidade entrou no declínio a partir de 1250 e acabou sendo abandonada. A floresta tomou conta do local e cobriu templos e palácios.

Em 1840, o explorador estadunidense John Lloyd Stephens e seu companheiro de viagem, o arquiteto e desenhista Frederick Catherwood viajaram para a região e mapearam tudo o que encontraram. Primeiro foram as ruínas maias de Copán, no atual Belize, depois Palenque, no México, e daí para outros locais visitando um total de 44 sítios maias. Entre eles, Chichén Itzá que resultou em descrições e desenhos detalhados, especialmente da pirâmide de Kukulcán que estava, então, coberta pelo mato.

Os desenhos e litografias de Catherwood publicados em 1843 atraíram a atenção mundial. Mostraram que os maias foram os autores de algumas das obras artísticas e intelectuais mais avançadas da América pré-colombiana. Em 1860, a francesa Désiré Charnayem visitou Chichén Itzá e tirou inúmeras fotos do local.

Em 1924, o Instituto Carnegie de Washington solicitou licença ao governo mexicano para realizar explorações e reconstruções na zona de Chichén Itzá. Os trabalhos começaram três anos depois com a assistência de arqueólogos mexicanos e prosseguiram durante as décadas seguintes.

As escavações na pirâmide de Kulkucán trouxeram numerosos objetos de coral e obsidiana junto a restos humanos, a escultura de um Chac Mool com incrustações de concha de nácar nas unhas, dentes e olhos, e a escultura de um jaguar de cor vermelha com 74 incrustações de jade que simulam as manchas características do animal.

Os trabalhos arqueológicos continuam ocorrendo em Chichén-Itzá.

9. TIKAL (GUATEMALA)

Pirâmides de Tikal, Guatemala, foto de Alfred Percival Maudsley tirada após a derrubada da vegetação, 1882.

Pirâmide do Jaguar, em Tikal, Guatemala, depois de restaurada.

Tikal, na floresta de Petén, no norte da Guatemala, foi um dos reinos mais poderosos dos antigos maias. Atingiu seu apogeu entre os anos 200 e 900 chegando a ter 90.000 habitantes. Durante esse tempo, a cidade dominou grande parte da região maia enquanto interagia com áreas em toda a Mesoamérica. Depois desse tempo, a cidade entrou em declínio e, no final do século X, a população abandonou o local. A floresta cobriu seus templos, pirâmides e palácios.

Foi somente em 1848 que Tikal recebeu atenção ao ser visitada por Modesto Méndez e Ambrosio Tut, respectivamente o comissário e o governador de Petén. O artista Eusebio Lara os acompanhou e seu relato foi publicado na Alemanha em 1853. Várias outras expedições vieram para investigar, mapear e fotografar Tikal no século XIX.

Entre 1881 e 1882, o arqueólogo britânico Alfred Percival Maudslay contratou trabalhadores para limpar e inspecionar as estruturas de Tikal. Os trabalhos pouco avançaram dada a dificuldade de acesso do local que só podia ser alcançado depois de vários dias de viagem pela selva a pé ou de mula.

Foi somente depois da construção de uma pequena pista de pouso nas ruínas, em 1951, que escavações arqueológicas foram realizadas pelo Projeto Tikal (1956 a 1970), da Universidade da Pensilvânia e do governo da Guatemala. Foram registrados mais de 200 monumentos no local e muitas estruturas foram restauradas. Em 1979, o governo da Guatemala deu início a outro projeto arqueológico em Tikal, que continuou até 1984.

10. O SENHOR DE SIPÁN, CULTURA MOCHE (PERU)

Reconstituição facial do Senhor de Sipán (à esquerda) e objetos encontrados sobre seu corpo na sepultura (à direita).

A cultura moche ou mochica floresceu no Peru entre 100 a.C. e 800 d.C. sendo, portanto, muito anterior aos incas. Formou um reino ou império que dominou uma extensa área ao noroeste do Peru entre os séculos II e III. Até recentemente, contudo, o pouco que se conhecia dos mochicas eram informações obtidas por meio de suas cerâmicas pintadas e tecidos coloridos.

Em 1987, o conhecimento sobre os mochicas se alargou com a descoberta realizada pelo arqueólogo peruano Walter Alva no sítio arqueológico de Sipán, no Peru. Foi encontrado o mausoléu intacto de um governante mochica, logo apelidado de “O Senhor de Sipán”. A descoberta, comparável em importância à da tumba de Tuntacâmon no Egito, é um dos achados mais importantes da América do Sul.

A múmia estava coberta da cabeça aos pés com diversos itens em ouro, prata, cobre e pedras preciosas que somavam por volta de 20 kg. Usava sandálias de prata e seu crânio estava colocado por cima de uma placa de ouro, outro sinal de sua importância na sociedade moche.

Outras seis pessoas dividiam a tumba com o governante mochica: três mulheres jovens, possivelmente esposas que morreram algum tempo antes, dois guerreiros com os pés amputados e uma criança de aproximadamente 10 anos. Havia, ainda, um cachorro e duas lhamas, assim como 451 itens cerimoniais e oferendas.

No ano de 2007, outras escavações descobriram catorze tumbas moches.  A maior parte dos objetos encontrados está exposta no Museu das Tumbas Reais de Sipán, na cidade de Lambayeque, ao norte do Peru.

11. TEMPLO MAYOR DE TENOCHTITLÁN (MÉXICO)

Maquete da área central de Tenochtitlán mostrando o Templo Mayor no alto ao centro.

A cidade de Tenochtitlán, a capital asteca, após a conquista espanhola, em 1521, foi destruída e suas construções desmanteladas e depois cobertas. Sobre ela foi construída a nova cidade colonial espanhola, a atual Cidade México.

Os pesquisadores sabiam, portanto, que bastava escavar o centro da capital para encontrar a antiga Tenochtitlán. Contudo, isso nunca foi estimulado pois ali estavam edifícios públicos importantes, como a catedral e o palácio de governo, e as residências da elite mexicana. Apesar disso, alguns vestígios foram descobertos durante obras na cidade como o calendário asteca e a escultura da deusa Coatlicue.

Em fevereiro de 1978, a situação mudou. Os trabalhadores da companhia de luz abriram um buraco para fazer o cabeamento do metrô. A dois metros de profundidade, um dos operários golpeou uma pedra circular com relevos. Era um disco enorme com mais de 3 metros de diâmetro e pesando 8,5 toneladas. O relevo mostrava Coyolxauhqui, a deusa da Lua, com seu corpo desmembrado.

Placa de pedra com a representação de Coyolxauhqui, a deusa da Lua.

A descoberta despertou grande interesse do então presidente José López Portilllo que estimulou as escavações arqueológicas no local. Foi reunida uma equipe multidisciplinar formada por arqueólogos, restauradores, químicos, geólogos, biólogos e outros especialistas para estudar os vestígios do que então se descobriu ser do Templo Mayor. Foi encontrada parte da escadaria do templo, diversos objetos, esculturas e crânios humanos.

O Templo Mayor, a pirâmide dupla com dois santuários no topo, era o principal templo da capital asteca. Ali eram feitos os rituais e oferendas aos deuses Huitzilopochtli e Tláloc, o deus da chuva. Era o lugar por excelência dos sacrifícios humanos com a extração do coração. No Templo Mayor ocorriam, também, as festividades, a entronização e os funerais dos governantes astecas.

12. A MÚMIA JUANITA, A DONZELA DO GELO (PERU)

A Múmia Juanita descoberta em 1995.

Em 1995, o explorador estadunidense Johan Reinhard e seu parceiro de escalada peruano Miguel Zárate descobriram um corpo feminino congelado e preservado no alto do Monte Ampato de 6.300 metros de altitude, no sul do Peru.

Chamada de Múmia Juanita e também ‘Donzela do Gelo”, é o corpo de uma adolescente entre 12 e 15 anos que teria sido sacrificada como uma oferenda aos deuses incas entre 1440 e 1480. Ela foi morta com um único golpe na cabeça e seus bens funerários incluíam tigelas, alfinetes e estatuetas de ouro, prata e concha.

A mumificação ocorreu pelas condições naturais, devido ao congelamento no topo da montanha. Com isso sua pele, órgãos, tecidos, sangue, conteúdo estomacal e vestimentas estão bem preservados, oferecendo aos cientistas um raro vislumbre da cultura inca durante o reinado de Sapa Inca Pachacuti (1438-1471).

Juanita estava envolta em uma tapeçaria funerária de cores vivas (ou “aksu”). Na cabeça tinha um enfeite de penas vermelhas de arara e usava um xale feito de lã de alpaca preso com uma fivela de prata. Estava vestida com roupas semelhantes aos melhores tecidos da capital inca de Cuzco.

A análise de seu cabelo e conteúdo estomacal indica que Juanita comia alimentos como proteína animal e milho. Esses alimentos faziam parte da dieta da nobreza inca, ao contrário da dieta popular baseada em vegetais.

As últimas seis ou oito semanas de vida ela teria ingerido álcool (chicha) e coca. Era uma prática usada para as crianças incas destinadas ao sacrifício o que as deixavam em estado de inconsciência. Isso se repetiu poucas horas antes de sua morte, sugerindo que Juanita estava quase inconsciente quando recebeu o golpe fatal.

Juanita está exposta no Museu dos Santuários Andinos, da Universidade Católica de Santa Maria, em Arequipa, Peru.

13. PINTURAS RUPESTRES DE CERRO AZUL (COLÔMBIA)

Pinturas rupestres descobertas na Amazônia colombiana.

Em 2014 e 2015, o sítio arqueológico de Cerro Azul, no estado de Guaviare, na Amazônia colombiana, começou a ser escavado, mas os trabalhos foram interrompidos pela dificuldade de acesso em uma área de floresta fechada e ocupada por guerrilheiros rebeldes das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Firmado o tratado de paz de 2016 que pôs fim às hostilidades entre o governo colombiano e as FARC, os arqueólogos retomaram as escavações em 2017 e 2018. O que encontraram foi surpreendente: uma das maiores coleções de arte rupestre do mundo que se estende por quase 13 km de penhasco na Amazônia colombiana.

São milhares de pictogramas representando formas geométricas, figuras humanas, impressões de mãos, plantas e animais que fornecem evidências dos primeiros habitantes da região e suas interações ambientais. Os desenhos de animais são de um realismo impressionante e incluem a megafauna extinta como preguiças gigantes, mastodontes, camelídeos, cavalos entre outros.  Há também cenas de caça e rituais, com humanos interagindo com plantas, florestas e animais da savana. Entre as figuras zoomórficas mais abundantes estão veados, antas, crocodilos, morcegos, macacos, tartarugas, cobras e porcos-espinhos

As investigações em radiocarbono estabeleceram datações de 11.800 AP até 12.600 AP correspondendo ao Pleistoceno Superior / Holoceno Inferior. Duas amostras de carvão coletadas em Cerro Azul produziram datas de 20.500-19.200 AP, mas ainda são necessárias mais pesquisas e novos registros para confirmar uma datação tão anterior.

14. MULHERES CAÇADORAS DA PRÉ-HISTÓRIA (PERU)

Mulher caçando vicunha com um átlatl, desenho de Matthew Verdolivo.

Em 2018, Randall Haas, arqueólogo da Universidade da Califórnia examinou com sua equipe o túmulo escavado de um indivíduo que foi sepultado no antiplano Wilamaya Patjxa, na Cordilheira dos Andes, no Peru. Junto ao corpo havia 24 ferramentas de pedra como pontas de projéteis, lanças, rochas pesadas usadas para quebrar ossos e um átlatl, uma arma propulsora que permitia arremessar uma lança para abater vicunhas e outros mamíferos.

A análise do corpo surpreendeu os pesquisadores: era uma mulher que tinha entre 17 e 19 anos quando morreu a cerca de 9.000 anos atrás. No local em que fora enterrada também havia ossos de grandes mamíferos indicando o significado e valor da caça na sociedade da qual fazia parte.

A descoberta levou a equipe de Randall a rever estudos anteriores sobre enterros da mesma época. Foram analisadas ossadas de 27 esqueletos cujo sexo biológico poderia ser identificado. O resultado foi que 16 eram homens e 11 (41% ) eram do sexo feminino, caçadoras de grande porte.

A descoberta contraria a hipótese do “homem caçador” formulada nos anos 1960. Segundo essa teoria, os homens eram os principais ou únicos responsáveis pela caça nas antigas sociedades de caçadores-coletores, enquanto as mulheres cuidavam dos filhos e da coleta de frutos e raízes.

Outras sepulturas estão reavaliadas e os resultados parecem confirmar que a divisão sexual do trabalho pode não ser uma regra na história. Em 2017, descobriu-se que a famosa sepultura de um guerreiro viking encontrada no começo do século XX na Suécia era, na verdade, de uma mulher.

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