Os livros acorrentados e amaldiçoados da Idade Média

Os livros acorrentados e amaldiçoados da Idade Média

Os manuscritos eram bens preciosos na Idade Média. Em algumas bibliotecas de mosteiros e universidades, os livros ficavam trancados ou mesmo acorrentados. A corrente era presa à capa do livro e fechada com um cadeado na estante. Era um método eficiente: o livro poderia ser retirado da prateleira e lido em uma mesa próxima, mas não removido da biblioteca. Esse sistema de segurança foi usado até o século XVIII, quando os livros se tornaram mais comuns e mais baratos de produzir.

Uma proteção eficiente era a ameaça de excomunhão, o que para o católico, significava a ida direta para inferno. A excomunhão, porém, era um castigo leve, pois podia ser reversível. Além disso, dependia da intervenção da Igreja em um processo demorado e complicado, além de exigir a identificação do ladrão.

O melhor dispositivo antirroubo era a maldição. A maldição não precisava da intervenção humana e nem da identificação do ladrão. Era lançada pela vítima que invocava diretamente Deus e a maldição alcançava de imediato a alma do larápio.

O costume remonta a tempos pré-cristãos, quando a ira dos deuses era invocada para proteger rolos de papiro e pergaminhos. Há registros de maldição contra ladrões em tabuinhas escritas em cuneiforme, também em rolos de papiro e pergaminho gregos e romanos. Maldições antigas foram usadas até mesmo para desencorajar o empréstimo de livros a outras pessoas. Uma dessas maldições afirmava: “Aquele que confia [este livro] às mãos alheias, que todos os deuses que se encontram na Babilônia o amaldiçoem!”.

Porque proteger os livros

O maior estudioso sobre as maldições de livros medievais é Marc Drogin. Em sua obra Anathema! Medieval scribes and the History of book curses (“Anathema! Escribas medievais e a história das maldições do livro”) ele explica como os livros eram feitos, os recursos necessários para isso, o custo e o tempo para produzir um único volume. Por isso, os escribas e copistas tinham que tomar medidas drásticas para protegê-los.

O anátema, a invocação de uma maldição, era escrito, geralmente, na primeira ou na última página. Quanto mais detalhes criativos e dramáticos contivesse o anátema, maior o terror que ele causava.

O homem medieval, profundamente religioso e místico, acreditava em maldições e ficava tão impressionado com aquelas palavras que poderia mesmo cair doente e febril. Se rasgasse a página era ainda pior: estava destinado a uma morte lenta, com muito sofrimento e dor.

“Que morra o ladrão deste livro” (Raptor libri moriatur)

Reproduzimos a seguir alguns exemplos de maldições de livros.

 “Este livro é um / E a maldição de Deus é outra;/ Aqueles que pegam um / que Deus lhes dê o outro.”

“Para roubar este livro, se você tentar, / É pelo pescoço que você ficará pendurado alto. / E os corvos então se reunirão / Para encontrar seus olhos e arrancá-los.”

“Não roube este livro meu amigo honesto / Por medo de que a forca deva ser o seu fim/ E quando você morrer o Senhor dirá / Onde está o livro que você roubou?”

“Se alguém tirar este livro, morra de morte; deixe-o ser frito em uma panela; deixe que a doença e a febre o dominem; que ele seja quebrado na roda e enforcado.”

“Que a espada do anátema mate / Se alguém roubar este livro.”

“Se alguém, por qualquer artifício, tirar este livro deste lugar; sua alma poderá sofrer pelo que ele fez, que seu nome seja apagado como livro vivo e não seja incluído entre os benditos.”

Os livros e manuscritos eram protegidos não somente por seu valor como objetos físicos mas também pelo seu conteúdo, isto é, o conhecimento que continham. Hoje, esse conhecimento é considerado propriedade intelectual e relaciona-se à autoria de uma obra incluindo criações literárias, artísticas, científicas, interpretações e execuções artísticas, invenções, descobertas científicas, desenhos e modelos industriais etc. No Brasil, são protegidos pela Lei de Direitos Autorais.

Fonte

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