Quando os espanhóis enfrentaram os guerreiros astecas depararam-se com uma arma desconhecida e extremamente mortal: o macuahuitl. Parecia uma espada ou uma clava, mas não era nem uma coisa ou outra. Talvez a arma mais semelhante seria uma espécie de “espada de serra”.
O macuahuitl era um bastão chato de madeira com lâminas afiadas de obsidiana embutidas nas bordas. Segundo Bruce Buck, a obsidiana é capaz de produzir uma lâmina mais afiada do que lâminas de barbear de aço de alta qualidade. Em artigo científico, ele chega a sugerir que instrumentos cirúrgicos modernos recebam lâminas de vidro vulcânico, como é o caso da obsidiana ( Buck, 1982).
Descrição do macuahuitl
De acordo com o conquistador espanhol Bernal Diaz del Castillo, o macuahuitl tinha 0,91 m a 1,22 m de comprimento e 7,5 cm a 9 cm de largura, com um sulco ao longo de cada borda, no qual pedaços de sílex ou obsidiana, com 3 cm de comprimento, eram inseridos e firmemente fixados com betume. Alguns modelos podiam ser maiores, destinados ao uso com as duas mãos.
Del Castillo observa que o macuahuitl era afiado o suficiente para decapitar um homem e que poderia até decapitar um cavalo em um único golpe. Além disso era tão habilmente construído que as lâminas não podiam ser arrancadas nem quebradas.
Pode ser exagero do cronista, mas os golpes do macuahuitl fizeram os espanhois tremerem, inclusive por seus cavalos que também foram golpeados no peito e nas pernas pelos guerreiros astecas. Em seus relatos, os espanhóis comparam o macuahuitl com “as espadas de Toledo”, célebres pela qualidade excepcional de sua lâmina de aço.
Há uma ilustração no livro XII do Códice Florentino, de Bernardino de Sahagún, século XVI, mostrando cabeças de espanhóis e de seus cavalos expostas em frente ao Templo Mayor de Tenochtitlán, a capital asteca. Não há porque duvidar disso uma vez que os astecas dedicavam suas vitórias ao deus Huitizilopochtl a quem ofereciam as cabeças decapitadas dos inimigos deixando seus crânios fixados no tzompantli (veja imagem abaixo) ou embutidos nas paredes do templo do deus.
De acordo com o arqueólogo Marco Cercera Obrigon (2006), da Escola Nacional de Antropologia e História (ENAH), havia duas versões desta arma: o macuahuitl, com cerca de 70 a 80 cm de comprimento com seis a oito lâminas de cada lado; e o mācuāhuitzōctli, menor com cerca de 50 cm de comprimento e apenas quatro lâminas de obsidiana.
Uma arma anterior aos astecas
O maquahuitl não foi uma invenção asteca. Ferramentas feitas de fragmentos de obsidiana foram usadas por alguns dos primeiros mesoamericanos. Facas de corte de obsidiana, foices, raspadores, brocas, navalhas e pontas de flechas também foram encontrados em muitos sítios arqueológicos da Mesoaméric.
Havia várias minas de obsidiana no Vale do México, bem como nas montanhas ao norte do vale. Entre elas estava as da Sierra de las Navajas (Montanha das Navalhas), nome em homenagem aos seus depósitos de obsidiana.
O uso do maquahuitl como arma já ocorria desde o 1º milênio d.C. Uma escultura maia em Chichen Itza mostra um guerreiro segurando um macuahuitl, representado como um porrete com lâminas separadas saindo de cada lado. Em um mural, um guerreiro segura um bastão com muitas lâminas de um lado e uma ponta afiada do outro, talvez uma variante do macuahuitl.
Outros povos como os mixtecas, tarascos e toltecas também usavam o macuahuitl.
Outras armas
Além da macuahuitl, os astecas usavam ainda as seguintes armas:
- Chumalli (escudo redondo)
- Tlauitolli (arco)
- Atlatl (propulsor ou lança-dardos)
- Tepoztopilli (lança tendo na ponta lâminas de obsidiana para perfurar o inimigo)
Fonte
- BUCK, Bruce A. Ancient technology in contemporary surgery. The Western Journal of Medicine, 136 (3): 265-269, mar 1982.
- OBREGÓN, Marco Antonio Cervera. The macuahuitl: an innovative weapon of the late post-classic in Mesoamerica. Arms & Armour, c.3, n.2, 2006.