Máquinas de crescer cabelo: as engenhocas contra a calvície

Máquinas de crescer cabelo: as engenhocas contra a calvície

Perder os cabelos e ficar careca foi sempre um pesadelo para homens e mulheres ao longo da história. Desde a Antiguidade, foram criadas as mais bizarras receitas para deter a queda de cabelos e fazê-los crescer novamente. As fórmulas misturavam tudo o que estava às mãos: plantas, esterco, gordura de animais, teia de aranha, iodo, enxofre, mercúrio etc.

No século XX, um novo vilão foi apontado como causador da calvície: o chapéu. O uso do chapéu por quase todos os homens foi responsabilizado por causar queda de cabelo pois “abafava” a respiração dos folículos capilares. Os defensores dessa ideia diziam para os homens deixarem o couro cabeludo receber luz do sol e ar puro para revigorar as raízes.

Os homens, porém, não deixaram de usar chapéu até porque ele era um aliado para esconder a careca.

O otimismo pela modernização propiciada pela era industrial estimulou novas experiências capilares: as máquinas de crescer cabelo! Elas foram anunciadas com estardalhaço nas revistas, jornais, rádio e na televisão e atraíram clientes esperançosos em recuperarem uma vasta cabeleira. Conheça algumas delas.

1. A máquina de sucção

Em 1905, foi lançado o Evans Vacuum Cap, em St. Louis, Missouri, Estados Unidos. Era uma máquina de sucção para crescer cabelo. Consistia em capacete de metal que criava pressão por meio do vácuo no topo da cabeça puxando o sangue para estimular as raízes do cabelo.

O criador explicava que o dispositivo “exercitava o couro cabeludo e ajudava a circular o sangue estagnado, alimentando as raízes encolhidas do cabelo e resultando um crescimento exuberante da cabeleira”.

Uma variante da engenhoca, o Hygiene Vaccum, dava “um brilho saudável à careca e uma agradável sensação de formigamento”.

“Evans Vacuum Cap”, a máquina de sucção para crescer cabelo, 1905

2. Eletroterapia com raio violeta

Lançado na virada do século XX, o Master Violet Ray 11 prometia acabar com a calvície por meio da exposição ao raio violeta. A primeira máquina de raio violeta foi apresentada pelo famoso inventor Nikola Tesla na Feira Mundial de 1893, e causou um furor.

Os dispositivos de raio violeta enviam plasma carregado através de tubos de vidro para o couro cabeludo, causando uma sensação de formigamento. Acreditava-se que isso estimulava o crescimento dos cabelos. A eletroterapia consistia em uma descarga de alta voltagem, alta frequência e baixa correte no corpo humano. É considerado, hoje, um recurso obsoleto além de perigoso.

A “Master Violet Ray 11”, prometia acabar com a calvície por meio do raio violeta.

3. Luz azul para acordar os bulbos capilares

Em 1925 foi lançado nos Estados Unidos, o Thermocap, um aparelho para o tratamento do couro cabeludo que prometia estimular a circulação sanguínea, limpar poros entupidos e nutrir os bulbos capilares adormecidos. Acredita-se, então, que a calvície era resultado de folículos dormentes e não mortos e que bastava uma estimulação correta para “acordá-los”.

A solução estava no Thermocap que gerava calor por meio da luz azul de uma lâmpada especial de raios de quartzo. Quando usado por 15 minutos por dia, a luz azul emitida no couro cabeludo despertava as raízes do cabelo e ele “renascia”. Junto com o Thermocap, o tratamento incluía um tônico, um anticaspa e um shampoo. Nada funcionou.

O “Thermocap” gerava calor por meio da luz azul de uma lâmpada de quartzo.

 Em seu livro, Hair Culture (1921), o defensor da cultura física Bernarr MacFadden escreveu:

“Há mais charlatanismo desenfreado em conexão com os cuidados com o cabelo e couro cabeludo – tanto pela profissão médica quanto pelos fabricantes de remédios e loções – do que em qualquer outra especialidade já concebida para o exploração de humanos enfermos”.

Segundo ele, a maior parte da queda de cabelo é causada pela falta de vigor físico e condições anti-higiênicas do couro cabeludo. Ele prescrevia massagem no couro cabeludo, puxões de cabelo e escovação vigorosa do couro cabeludo. MacFadden estava longe de ter problemas com a calvície, pelo contrário era dono de uma vasta cabeleira que conservou até sua morte aos 87 anos.

4. Máquina de sucção de pressão

O Xervac foi lançado nos Estados Unidos, em 1937, por Powel Crosley, um industrial que fabricava rádios e geladeiras, ele mesmo um careca entusiasta pelos tratamentos elétricos para a calvície.

 A máquina consistia em um capacete conectado através de uma mangueira de borracha a um motor elétrico. Quando ligado, acionava um compressor que fornecia rajas curtas de ar ou vácuo de 10-20 segundos, alternando sucção e pressão na cabeça para estimular o fluxo sanguíneo. Os pacientes deviam usar o dispositivo diariamente por 15 a 30 minutos.

O Xervac estava disponível para salões de beleza, barbearias e consultórios médicos. Em 1938, um modelo menor e menos potente foi lançado para consumidores domésticos. O fabricante garantia o sucesso do equipamento e a devolução do dinheiro pra quem não ficasse satisfeito. O Xervac, contudo, não se saiu bem no mercado e sua fabricação foi encerrada. E Powel Crosley continuou careca.

O anúncio do “Xervac” ironizava a calvície afirmandor: “A pelada mais impopular do mundo … uma cabeça careca”.

Powel Crosley usando sua máquina “Xervac” de crescer cabelo. Não adiantou, ele continuou careca.

5. Enfim, a solução da calvície! Mas inacessível por décadas por falta de tradução.

No Japão, o dermatologista Dr. Shoji Okuda (1886-1962) publicou na edição de outubro de 1939 do Japanese Journal of Dermatology seu método para usar enxertos de cabelo para substituir cabelos perdidos nas áreas do couro cabeludo, sobrancelha, bigode e pelos pubianos.

Foi o primeiro relato publicado sobre a técnica moderna de transplante de cabelo. O método funcionava. O Dr. Okuda removeu os folículos capilares da nuca do paciente e transplantou os enxertos para novos locais para dar a impressão de ter mais cabelo.

Seu trabalho, publicado às vésperas da Segunda Guerra Mundial, passou despercebido no Ocidente e assim permaneceu por longo tempo. Até a década de 1990, seus artigos do dr. Okuda não foram conhecidos na íntegra pelos especialistas ocidentais. Havia apenas resumos em inglês disponibilizada aos estudiosos. Isso se deveu à dificuldade de leitura das 50 páginas impressas dos originais, escritos em antigos kanji (pictogramas) e ao estilo literário quase ininteligível (houve uma grande mudança entre o pré-guerra e o pós-guerra na escrita japonesa). A versão completa em inglês foi finalmente alcançada em 2003 graças ao trabalho de tradução de um médico japonês mais velho, Dr. Yoshihiro Imagawa que conhecia o antigo kanji.

Calvície não é doença

Embora não seja classificada como doença, a calvície não pode ser uma piada para muitos que sofrem com ela. A perda de cabelos afeta a autoconfiança e, em casos extremos, pode levar a sentimentos de depressão.

Os médicos se referem à calvície como alopecia androgenética sendo, portanto, na maior parte dos casos, hereditária. Embora a ciência moderna esteja fazendo grandes progressos, até o momento não se conhece completamente seus mecanismos e nem como reverte-la.

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