O dinheiro no Brasil Colônia (1500 a 1822)

O dinheiro no Brasil Colônia (1500 a 1822)

As primeiras moedas metálicas – de ouro, prata e cobre – chegaram à América portuguesa com o início da colonização. A moeda portuguesa era, então o Real (plural: réis) e ele foi usado durante todo período colonial.

Contudo, a circulação do Real foi muito pequena na Colônia pela carência de metais preciosos nos cofres portugueses. Na falta de moedas, os colonos usavam o mesmo sistema de troca que faziam com os indígenas: o escambo. Em vários relatos, há referências ao uso do açúcar, algodão e fumo como meio de pagamento.

Durante a União Ibérica (1580-1640), quando a Espanha administrou as colônias portuguesas, houve maior disponibilidade de moedas para o comércio. A Espanha dispunha, então, de ricas reservas metálicas devido a maior abundância de ouro e prata em seu império.  Naquele período, circulou no Brasil o real hispano-americano, cunhado na Bolívia.

Os florins do Brasil holandês

Durante o domínio holandês no Nordeste brasileiro (1630-1654), a necessidade de mais unidades monetárias em circulação levou à criação da primeira Casa da Moeda do Brasil, a pedido de Maurício de Nassau, em 1645.

Entre 1645 e 1646, foi cunhado, em Recife, o ducado do Brasil, popularmente chamado de florim do Brasil – a primeira moeda fabricada na colônia e que trazia o nome Brasil. Trazia também a marca GWC – abreviatura, em holandês da Companhia das Índias Ocidentais, a empresa holandesa que explorava e administrava os domínios ocupados no Brasil.

O ducado do Brasil foi usado nas transações comerciais envolvendo a exportação de açúcar e de outros produtos comercializados pela Companhia. Sua circulação estava restrita às possessões holandesas na América do Sul. O ducado do Brasil possuía valor mais elevado do que os florins holandeses – uma medida para evitar que saísse do país, visto que se tratava de uma moeda temporária que seria recolhida depois.

Moeda de III Florins de 1646, cunhada durante a ocupação holandesa no Nordeste.

 

As Patacas de prata e os Dobrões de ouro

Expulsos os holandeses do Brasil, a Coroa portuguesa decidiu reaproveitar os ducados existentes imprimindo o brasão da Coroa Lusitana por cima.

A primeira Casa da Moeda de origem lusitana surgiu em 1694, na cidade de Salvador. Foram então cunhados os chamados réis. A série era composta por moedas de prata nos valores de 20, 40, 80, 160 e 320 réis, e moedas de ouro de 1000, 2000 e 4000 réis. A prata era oriunda do derretimento de moedas antigas, já que não havia refino de prata na colônia.

A moeda de 320 réis era popularmente chamada de pataca.  As patacas foram as moedas que por mais tempo circularam no país, de 1695 a 1834.

Entre 1810 e 1834 foi também cunhada uma outra moeda de prata, que valia 960 réis ou 3 patacas, era o chamado patacão. Já a moeda de 160 réis está na origem da expressão popular de meia-pataca, que designa alguma coisa de pouco valor ou de má qualidade.

A Casa da Moeda da Bahia funcionou de 1695 a 1698 quando foi transferida para o Rio de Janeiro, onde funcionou até 1700, passando depois para Pernambuco onde funcionou até 1702 quando voltou para o Rio de Janeiro.

Com o auge da mineração, deu-se a cunhagem do Dobrão, cunhado inicialmente pela Casa da Moeda de Vila Rica. A série de dobrões era composta por moedas nos valores de 400, 1.000, 2.000, 4.000, 10.000 e 20.000 Réis. Essa última com peso de 53,78g, uma das maiores moedas de ouro já circuladas no mundo. Equivalia, na época, 1/4 do preço equivalente de uma escrava jovem.

Dobrão brasileiro (frente e verso) de 20.000 Réis emitido em 1726 durante o reinado de D. João; a maior moeda de ouro em circulação no mundo.

As barras de ouro quintado

Segundo o geólogo e metalurgista alemão, o barão Von Eschwege, a produção total de ouro de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso no século XVIII foi de 740.334 kg. Já Virgílio Noya Pinto estima o total de 876.629 kg de ouro produzido no mesmo período e regiões (PINTO, 1979, p. 116). Esses números foram obtidos basicamente da análise das cargas de ouro nas frotas e das notícias sobre contrabando.

Considerando a estimativa desses dois pesquisadores, o Brasil produziu uma média de 808 toneladas de ouro no século XVIII. Foi com o ouro do Brasil que os reis portugueses D. João V, D. José, D. Maria I e D. João VI emitiram os dobrões, as moedas de ouro de grande beleza e qualidade.

No Brasil, o ouro em pó circulou como forma de pagamento nos primeiros anos da mineração. Em 1719, o governo português proibiu a comercialização do ouro em pó para evitar o extravio do metal. O ouro deveria circular fundido e sob a forma de barras. Para isso foram criadas Casas de Fundição em vários pontos do Brasil (Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, por exemplo).

A fundição garantia o pagamento do quinto, o tributo exigido por Portugal equivalente a 20% do ouro – o que era retirado no processo de fundição. O ouro em barra era identificado como “ouro quintado”, isto é, com o quinto já deduzido. Era também expedido um certificado que deveria acompanhar a barra de ouro daí em diante.

A barra recebia ainda outras gravações: o selo do Reino, o número de série, o ano de fundição, o grau de pureza, o peso e as iniciais da fundição.

A barra, acompanhada da respectiva guia, circulava como moeda e este sistema vigorou até 1833. Por essa época, a fabricação de moedas estava centralizada na Casa de Moeda do Rio de Janeiro, criada em 1823.

Barra de ouro quintado, de 1809.

Barra de ouro da Casa de Fundição de Serro Frio, Minas Gerais, de 1809, de 23 quilates (o ouro puro é de 24 quilates) e pesando 3 onças, 6 oitavas e 46 grãos, cerca de 85 gramas.

Fonte

  • COSTA, Iraci del Nero da; MARCONDES, Renato Leite. A moeda no Brasil. FEA-USP
  • COSTA, Ney Chrysostomo da. História das moedas do Brasil. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1973.
  • MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos: A influência da ocupação holandesa na vida e cultura do norte do Brasil. Rio de Janeiro: Top Books, 2001.
  • AMATO, Claudio; NEVES, Irlei S; RUSSO, Arnaldo. Livro das moedas do Brasil. São Paulo: s/e, 2004.
  • Casas de Fundição. Receita Federal. Ministério da Economia.
  • PINTO, Virgílio Noya. O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. São Paulo: Nacional, 1979.

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