As primeiras moedas metálicas – de ouro, prata e cobre – chegaram à América portuguesa com o início da colonização. A moeda portuguesa era, então o Real (plural: réis) e ele foi usado durante todo período colonial.
Contudo, a circulação do Real foi muito pequena na Colônia pela carência de metais preciosos nos cofres portugueses. Na falta de moedas, os colonos usavam o mesmo sistema de troca que faziam com os indígenas: o escambo. Em vários relatos, há referências ao uso do açúcar, algodão e fumo como meio de pagamento.
Durante a União Ibérica (1580-1640), quando a Espanha administrou as colônias portuguesas, houve maior disponibilidade de moedas para o comércio. A Espanha dispunha, então, de ricas reservas metálicas devido a maior abundância de ouro e prata em seu império. Naquele período, circulou no Brasil o real hispano-americano, cunhado na Bolívia.
Os florins do Brasil holandês
Durante o domínio holandês no Nordeste brasileiro (1630-1654), a necessidade de mais unidades monetárias em circulação levou à criação da primeira Casa da Moeda do Brasil, a pedido de Maurício de Nassau, em 1645.
Entre 1645 e 1646, foi cunhado, em Recife, o ducado do Brasil, popularmente chamado de florim do Brasil – a primeira moeda fabricada na colônia e que trazia o nome Brasil. Trazia também a marca GWC – abreviatura, em holandês da Companhia das Índias Ocidentais, a empresa holandesa que explorava e administrava os domínios ocupados no Brasil.
O ducado do Brasil foi usado nas transações comerciais envolvendo a exportação de açúcar e de outros produtos comercializados pela Companhia. Sua circulação estava restrita às possessões holandesas na América do Sul. O ducado do Brasil possuía valor mais elevado do que os florins holandeses – uma medida para evitar que saísse do país, visto que se tratava de uma moeda temporária que seria recolhida depois.
As Patacas de prata e os Dobrões de ouro
Expulsos os holandeses do Brasil, a Coroa portuguesa decidiu reaproveitar os ducados existentes imprimindo o brasão da Coroa Lusitana por cima.
A primeira Casa da Moeda de origem lusitana surgiu em 1694, na cidade de Salvador. Foram então cunhados os chamados réis. A série era composta por moedas de prata nos valores de 20, 40, 80, 160 e 320 réis, e moedas de ouro de 1000, 2000 e 4000 réis. A prata era oriunda do derretimento de moedas antigas, já que não havia refino de prata na colônia.
A moeda de 320 réis era popularmente chamada de pataca. As patacas foram as moedas que por mais tempo circularam no país, de 1695 a 1834.
Entre 1810 e 1834 foi também cunhada uma outra moeda de prata, que valia 960 réis ou 3 patacas, era o chamado patacão. Já a moeda de 160 réis está na origem da expressão popular de meia-pataca, que designa alguma coisa de pouco valor ou de má qualidade.
A Casa da Moeda da Bahia funcionou de 1695 a 1698 quando foi transferida para o Rio de Janeiro, onde funcionou até 1700, passando depois para Pernambuco onde funcionou até 1702 quando voltou para o Rio de Janeiro.
Com o auge da mineração, deu-se a cunhagem do Dobrão, cunhado inicialmente pela Casa da Moeda de Vila Rica. A série de dobrões era composta por moedas nos valores de 400, 1.000, 2.000, 4.000, 10.000 e 20.000 Réis. Essa última com peso de 53,78g, uma das maiores moedas de ouro já circuladas no mundo. Equivalia, na época, 1/4 do preço equivalente de uma escrava jovem.
As barras de ouro quintado
Segundo o geólogo e metalurgista alemão, o barão Von Eschwege, a produção total de ouro de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso no século XVIII foi de 740.334 kg. Já Virgílio Noya Pinto estima o total de 876.629 kg de ouro produzido no mesmo período e regiões (PINTO, 1979, p. 116). Esses números foram obtidos basicamente da análise das cargas de ouro nas frotas e das notícias sobre contrabando.
Considerando a estimativa desses dois pesquisadores, o Brasil produziu uma média de 808 toneladas de ouro no século XVIII. Foi com o ouro do Brasil que os reis portugueses D. João V, D. José, D. Maria I e D. João VI emitiram os dobrões, as moedas de ouro de grande beleza e qualidade.
No Brasil, o ouro em pó circulou como forma de pagamento nos primeiros anos da mineração. Em 1719, o governo português proibiu a comercialização do ouro em pó para evitar o extravio do metal. O ouro deveria circular fundido e sob a forma de barras. Para isso foram criadas Casas de Fundição em vários pontos do Brasil (Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, por exemplo).
A fundição garantia o pagamento do quinto, o tributo exigido por Portugal equivalente a 20% do ouro – o que era retirado no processo de fundição. O ouro em barra era identificado como “ouro quintado”, isto é, com o quinto já deduzido. Era também expedido um certificado que deveria acompanhar a barra de ouro daí em diante.
A barra recebia ainda outras gravações: o selo do Reino, o número de série, o ano de fundição, o grau de pureza, o peso e as iniciais da fundição.
A barra, acompanhada da respectiva guia, circulava como moeda e este sistema vigorou até 1833. Por essa época, a fabricação de moedas estava centralizada na Casa de Moeda do Rio de Janeiro, criada em 1823.
Fonte
- COSTA, Iraci del Nero da; MARCONDES, Renato Leite. A moeda no Brasil. FEA-USP
- COSTA, Ney Chrysostomo da. História das moedas do Brasil. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1973.
- MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos: A influência da ocupação holandesa na vida e cultura do norte do Brasil. Rio de Janeiro: Top Books, 2001.
- AMATO, Claudio; NEVES, Irlei S; RUSSO, Arnaldo. Livro das moedas do Brasil. São Paulo: s/e, 2004.
- Casas de Fundição. Receita Federal. Ministério da Economia.
- PINTO, Virgílio Noya. O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. São Paulo: Nacional, 1979.