Os antigos egípcios já usavam prótese há mais de 2500 anos

Os antigos egípcios já usavam prótese há mais de 2500 anos

Uma prótese de dedo do pé foi encontrada em uma múmia egípcia datada entre 950 e 710 a.C. Ela pertenceu a Tabaketenmut, a filha de um alto sacerdote egípcio e está exposta no Museu Egípcio do Cairo.

A prótese foi feita com três peças de madeira moldadas e perfuradas com pequenos buracos para a passagem de cordões de couro que funcionam como uma dobradiça possibilitando a flexibilidade e imitando a articulação do dedo do pé direito. Demonstra que seu fabricante tinha consciência da anatomia e da função do pé.

O chanfro deliberado na borda frontal mostra uma maneira de evitar o atrito com o osso na parte superior do pé. A parte inferior do dedo é plana para garantir estabilidade.

Prótese de dedo do pé encontrada na múmia de Tabaketenmut, a filha de um alto sacerdote egípcio, datada entre 950 e 710 a.C.

Prótese da múmia de Tabaketenmut, vista de frente.

Uma segunda peça, datada de 600 a.C., é um dedo do pé direito com a parte superior do pé. A prótese recebeu o nome de Greville Chester, e traz um espaço para ser fixada uma provável unha ornamental. Foi feita de papel machê de linho embebido com cola animal e revestido de gesso colorido. Foi encontrada em Tebas, perto de Luxor, e desconhece-se a quem pertenceu. Encontra-se atualmente exposto no Museu Britânico, Londres.

São os mais antigos dispositivos protéticos conhecidos no mundo.

O dedo do pé Greville Chester feito de cartonagem, datado de 600 a.C.

Manter o corpo inteiro para a vida pós-morte

Os egípcios acreditavam que os corpos dos mortos deveriam chegar inteiros e preservados na vida após a morte. Daí a importância da mumificação e os esforços para restabelecer a integridade do corpo físico.

Isso incluía ajustar um membro do corpo que estivesse faltando ou muito machucado, substituindo-o por partes simples feitas de palha, areia, linho, lama e manteiga. Até mesmo serragem era enfiada entre a pele e os músculos para melhorar os contornos do corpo; se necessário, acrescentavam olhos falsos, narizes e até órgãos genitais.

As próteses encontradas, contudo, não aparentavam serem apenas acessórios ou adornos para o Além. Feitas com materiais diferenciados, elas mostravam sinais de desgaste sugerindo que seus donos as utilizaram enquanto vivos.

O desafio dos especialistas era provar se elas funcionavam, de fato, como próteses.

Testando a funcionalidade da prótese

Para ser considerado prótese, o material deve resistir às forças corporais para que não se quebre ou rache com o uso. A proporção e aparência devem ser o mais próximo do natural. Deve ser fácil de colocar e tirar para ser mantido limpo. E, o mais importante, deve ajudar a caminhar com algum conforto.

Em 2012, cientistas da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, liderados pela dra. Jacky Finch decidiram investigar a funcionalidade das próteses egípcias. O experimento envolveu especialistas em práticas funerárias egípcias, profissionais de design de próteses e avaliação computadorizada de análise de locomoção.

Foram feitas réplicas exatas das próteses egípcias assim como sandálias semelhantes às usadas no antigo Egito. Dois voluntários que não tinham o dedão do pé direito foram convocados para utilizarem essas imitações.

Réplicas das sandálias egípcias e da prótese do dedo do pé direito usadas no teste.

No Laboratório de Pesquisa de Marcha da Universidade de Salford, Reino Unido, foram medidas as pressões geradas pelo caminhar e câmeras analisaram os passos e o movimento dos pés.

Foi concluído que os voluntários conseguiam movimentar os pés de modo altamente eficiente e ambos disseram que a prótese de madeira era especialmente confortável para caminhar confirmando a hipótese da pesquisadora de que os dedos falsos teriam sido próteses utilizadas em vida.

A dra. Jacky Finch surpreendeu-se com o resultado positivo dos testes. Segundo ela, as pisadas do pé direito de cada um dos voluntários, onde foi colocada a prótese, foi de 60% a 87% similar às pisadas com o pé esquerdo.

Concluiu-se, assim, que as peças originais possuíam, de fato, a função de prótese.

Dra. Jacky Finch com as réplicas das próteses egípcias.

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