Penico de madame: o jeito das damas urinarem no século XVIII

Penico de madame: o jeito das damas urinarem no século XVIII

Os palácios do século XVIII, como o magnífico Versalhes, não eram providos de banheiros que só surgiram no século seguinte. Existia, então a cadeira sanitária, um móvel que acomodava um penico para recolher os dejetos que os criados ou escravos jogavam no quintal, jardim, rio ou na rua mesmo. A cadeira era transportada pelos criados até o quarto do nobre usuário. No palácio de Versalhes, havia algumas centenas desses móveis sanitários na época de Luís XIV.

Cadeiras sanitárias do século XVIII. A da direita, do Solar da Marquesa de Santos, SP.

Havia, porém, situações ou locais em que não era possível levar uma cadeira sanitária, como os salões de baile, a ópera e o banquete. Foi para esses momentos que surgiu o prático bourdalou, o penico para a mulher se aliviar com discrição.

Diferente do penico tradicional, o bourdalou era menor e mais anatômico exigindo pouca abertura de perna para ser usado. Era prático para atender às necessidades fisiológicas das damas com seus enormes vestidos com várias camadas de tecido.

Usado pelas mulheres da nobreza, o bourdalou era uma peça requintada feita de faiança, porcelana e até de prata. Recebia pintura a ouro e alguns tinham uma decoração rebuscada com pássaro e flores em relevo.

Bourdalous de porcelana, século XVIII, e de prata, do século XIX (embaixo, à direita).

Uma senhora usando seu bourdalou, “La Toilette intime”, pintura de François Boucher, 1760.

O nome teria se originado de Louis Bourdaloue (1632-1704), um jesuíta francês que fazia sermões tão longos que levava as suas ouvintes sofrerem horrores para conter a vontade de urinar. Assim nasceu o hábito das damas transportarem estas pequenas peças para se aliviarem sem precisar sair da igreja. A história talvez seja uma lenda, mas o bourdalou surgiu no século XVIII e foi usada até o final do XIX.

Quando uma senhora precisava se aliviar, ela se retirava discretamente para um canto privado, atrás de um móvel alto ou para uma sala nos fundos. Sua criada entregava-lhe o recipiente. Ela urinava de pé pressionando o bourdalou entre as coxas, tomando cuidado para não derramar nenhum líquido nas saias. Quando terminava, entregava o vaso à sua criada para esvaziar o conteúdo.

Peças como essas eram obrigatórias nas apresentações teatrais, na ópera, nos bailes, nos banquetes e nas viagens, sendo conhecidas na Inglaterra como “penicos de carruagem”.

Bourdalou de faiança com decoração em relevo.

O bourdalou desapareceu à medida que os banheiros foram se tornando mais presentes nos locais públicos. Hoje são peças de colecionadores, vendidas em antiquários e casas de leilões por preços que podem chegar a 5.000 euros para os modelos mais comuns de porcelana pintada.

Embora menos comuns, também existiram penicos masculinos portáteis, feitos de louça e em formato funcional, como os modelos abaixo.

Penicos masculinos, porcelana, século XIX.

Compartilhe =]

Compartilhar no Facebook Compartilhar no WhatsApp Compartilhar no Pocket Compartilhar no Twitter Compartilhar no LinkedIn