Por que o vestido de noiva é branco?

Por que o vestido de noiva é branco?

O vestido de noiva como entendemos – branco, com véu, grinalda, luvas e buque de flores – é o traje tradicional usado pela noiva no dia do seu casamento e está intimamente ligado a um contexto de forte influência cultural da Igreja Católica Romana.

Em muitas sociedades, a cor branca tem sido associada à pureza e à virtude, e essa é uma das razões pelas quais algumas noivas optam por usar branco, especialmente no Ocidente. Muitos alegam que o branco é “tradição” para as noivas. Mas, historicamente, esse simbolismo e tradição não se confirmam. O branco nunca foi a única cor considerada para vestidos de noiva.

Uma breve história dos casamentos no Ocidente

Na Grécia antiga, a mulher usava um véu cobrindo o rosto e vestia uma túnica longa, fechada na frente e presa na cintura por um cinto com nós. Desatar os nós era uma alusão à realização do ato sexual. As cores da túnica variavam conforme o tingimento do tecido.

Em Roma antiga, não era muito diferente: a noiva vestia-se com uma túnica branca, reta, que descia até os pés. Na cintura usava uma faixa com o nó de Hércules que só o noivo tinha o direito de desatar. Ela também tinha uma capa cor de açafrão, um véu laranja na cabeça preso com uma coroa de flores, e calçava sandálias.

Nó de Hércules, um tipo de laçada usado nos vestidos de noiva de Roma Antiga.

Na Idade Média, não era costume usar um vestido específico para o casamento, mas sim, o vestido mais bonito, qualquer que fosse a cor. Podia ser, inclusive preto, principalmente se o noivo fosse viúvo. As mulheres da camada senhorial usavam tecidos coloridos, às vezes ornamentados com pele de arminho. Entre as camponesas, o vermelho era a cor predileta.

Uma noiva vestida de azul, iluminura do século XV.

No século XVI, em pleno Renascimento, as famílias aristocráticas começaram a usar um vestido branco que, segundo consta, foi lançado por Mary Stuart, rainha da Escócia e depois da França. Ela usava um vestido branco quando se casou com Francisco II, em 1558, na catedral de Notre Dame, em Paris.

A entrada da noiva impressionou a corte francesa e Francisco II registrou em seu diário:

“Estava vestida com roupa branca como lírio, tão suntuosa e ricamente feita que seria impossível descrevê-la. Duas moças carregavam maravilhosamente a longa cauda.

“No pescoço pendia um colar de valor inestimável, com pedras preciosas e outras riquezas de grande valor.

“Na cabeça, usava uma coroa de ouro adornada com pérolas, diamantes, rubis, safiras, esmeraldas e, principalmente, no meio da coroa pendia uma pedra estimada em quinhentas mil coroas ou mais.”

Mary Stuart e Francisco II, gravura do século XIX.

Nos séculos seguintes, outras cores foram usadas nos vestidos de noiva, sendo o preto o mais popular. A escolha era por razões de praticidade. As noivas preferiam um vestido para seu casamento que pudesse ser usado novamente. E o branco não é nada prático: é difícil de manter limpo e, portanto, inconveniente para muitas situações ou para uso repetido.

A volta do vestido de noiva branco

Foi a rainha Vitória (reinado de 1837 a 1901) que reintroduziu o vestido de noiva branco em seu casamento com o príncipe Albert, em 10 de fevereiro de 1840, no Palácio de St. James, em Londres.

Ela optou por usar um cetim branco para destacar seu marido, vestido com um uniforme vermelho e também para realçar a fina renda de bilro produzida artesanalmente em Honiton, Inglaterra.

 A renda de bilro apresenta arabescos e representações de flores e folhas. É um artesanato ainda feito por muitas mulheres, inclusive no Brasil. O vestido de noiva da rainha Vitória levou mais de três meses para ser ficar ponto e demandou o trabalho de quatrocentos trabalhadores!

Renda de bilro de Honiton.

Mulheres tecendo renda: tarefa feminina de todas as classes sociais. Quadro de Frederick Richard Pickersgill, séc. XIX.

Assim como hoje, os casamentos reais recebiam muita atenção da imprensa e da sociedade e, portanto, tendiam a definir tendências. Então, quando a rainha Vitória optou por um vestido branco enfeitado com renda de bilro sua escolha foi amplamente divulgada em jornais e revistas e logo influenciou o mercado e definiu tendências internacionais de casamento.

Vestido de noiva da rainha Vitória, conservado e exibido no Palácio de Kensington, Inglaterra.

Retrato da rainha Vitória com seu vestido de noiva, pintado por Franz Xaver Winterhalter, 1847, como presente de aniversário para o príncipe Albert.

A influência de Vitória não terminou com seu vestido de noiva. Seus trajes de festas com renda, em várias ocasiões, trouxeram muita popularidade à essa moda. Para prestigiar a indústria Honiton, a rainha usou suas rendas inclusive nas roupas de seus filhos, desde bebês, insistindo que suas filhas também pedissem rendas Honiton para seus vestidos de noiva. Quando Victoria morreu, ela foi enterrada com o véu de noiva sobre o rosto.

 Inicialmente adotada por noivas mais ricas, a tendência do vestido de noiva branco acabou se espalhando por todos os níveis econômicos e foi cimentada como “tradição” no século XX. Além disso, com a introdução da fotografia (em preto e branco até 1935), o vestido branco ficava muito melhor, ganhando brilho e luz.

Lembrança das núpcias do casal espanhol Angela Castanon Vieira e Juan Garcia Bravo Menendez, em 9 de agosto de 1902. A noiva está de preto. Por que não?

Fonte

Why do brides weat white? Why do brides weat white? Encyclopaedia Britannica.

LEE, Summer. 1840-Queen Victoria’s wedding dress. Fashion History Timeline. 28 jan 2020.

Tout sur le mariage de Marie Stuart et François II  Anecdotrip. 7 set.2020b

La robe de mariée: histoire et traditions. 30 nov. 2010

 

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