“É pique, é pique, é pique-pique-pique.
É hora, é hora, é hora,
Rá-tchim-bum”
A história desses versos desconexos é bem brasileira e nasceu entre os estudantes da Faculdade de Direito da USP. Um grupo de alunos chamado Pudim, formado em 1927 foi o inventor dessa tradição.
“É pique, é pique” era uma saudação ao estudante Ubirajara Martins de Souza. Ele usava um grande bigode com pontas finas e retorcidas na parte superior. Foi apelidado de “Pic-pic” porque usava uma tesourinha para aparar a barba e o bigode pontiagudo.
“É hora, é hora” nasceu em uma rodada de chope. O grupo Pudim estava no bar Pérola do Douro comemorando o aniversário de Ubirajara. Eles precisavam esperar meia hora para pedir mais bebida, tempo dela gelar nas barras de gelo. Quando chegava o tão aguardado momento, gritavam: “É meia hora, é hora, é hora, é hora, é hora”. Mário Ribeiro da Silva, apelidado de “Meia Hora”, levantou um brinde a Ubirajara: “Pic-pic, Pic-pic, Pic-pic”, Ubirajara então respondeu: “Meia hora, Meia hora, Meia hora”. E a turma completou, pedindo a cerveja: “É hora, é hora, é hora”.
O “rá-tchim-bum”, segundo Guilherme de Almeida, veio do nome do marajá de Kapurtala, Índia, de nome Timbun (ou coisa parecida). O marajá visitou a Faculdade de Direito e seu nome cativou os estudantes pela sonoridade da palavra. Ele foi saudado pelos estudantes com o “pique-pique” que finalizou com o “rá-já-tchim-bum”.
Estava pronto o hit nacional da saudação! Ele passou a ser cantado nos bares e restaurantes vizinhos à Faculdade de Direito, entre eles o Ponto Chic, no centro de São Paulo. A versão original era algo como “Pic-pic, pic-pic, meia hora, é hora-é hora-é hora, rá-já-tim-bum!”
Os estudantes eram convidados para prestigiar aniversários e, lá, animavam a festa com as músicas que inventavam. Foi assim que o “rá-tim-bum” virou presença obrigatória em aniversários de norte a sul do Brasil.
Canção “Parabéns a você”
A melodia da música foi criada pelas irmãs americanas Mildred e Patricia Smith Hill. Em 1875, essas duas professoras primárias de Louisville, no estado do Kentucky, resolveram compor uma canção para as crianças cantarem na entrada da escola. Nascia então “Good Morning to All” (“Bom dia a Todos”), com uma letra bem diferente da atual.
As irmãs registraram a música em 1893, mas em 1924 ela apareceu sem autorização num livro editado pelo americano Robert Coleman, que surrupiou a melodia e a primeira frase de “Good Morning to All” – o segundo verso ele já alterou para “Happy Birthday To You”, o popular “parabéns a você”.
Na nova versão, a música ganhou popularidade. Mas, em 1933, Jessica Hill, irmã das criadoras da melodia, resolveu brigar na Justiça pelos direitos autorais da música. Ela venceu: desde então, acredite se quiser, é preciso pagar royalties para tocar o “Parabéns” no rádio, na TV ou no cinema.
Segundo a revista americana Forbes, a gravadora Warner – a atual detentora dos direitos da música – fatura em média 2 milhões de dólares por ano só com os royalties do “Parabéns”.
E como a música chegou ao Brasil? Por aqui, a rádio Tupi do Rio de Janeiro organizou em 1942 um concurso para escolher uma letra que casasse com a melodia de “Happy Birthday To You”. A vencedora foi a paulista Bertha Celeste Homem de Mello, que até sua morte, em 1999, fazia questão de que as pessoas cantassem a letra do jeito que ela escreveu:
“Parabéns a você (e não “pra você”)
Nesta data querida (e não “nessa”)
Muita felicidade (e não “muitas felicidades”)
Muitos anos de vida.”
Fonte
- MARQUES, Fabrício. O Brasil que as Arcadas vislumbraram, Pesquisa Fapesp, agosto 2004.
- Quem são os autores de “Parabéns a você?”. Super Interessante, 4 jul 2018.