A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) foi um conflito intermitente entre os monarcas da Inglaterra e da França que durou 116 anos. Embora os combates não tenham sido contínuos e tenham existido longos períodos de paz, o nome Guerra dos Cem Anos, dado pelos historiadores do século XIX, acabou se fixando para chamar a série de conflitos entre os dois reinos. Para alguns estudiosos seria melhor falar em “Cem Anos de Guerra” e não Guerra dos Cem Anos.
As origens da guerra estão na sucessão do trono francês, disputado também pelo rei inglês Eduardo III (reinado 1327-1377), neto de Felipe, o Belo, rei da França, cujos filhos não haviam deixando descendentes homens. Os conflitos desenrolaram-se por inteiro em território francês. A superioridade tática e de armamentos valeu à Inglaterra importantes vitórias, principalmente a de Azincourt (1415).
Foi durante a Guerra dos Cem Anos que surgiu Joana d’Arc, uma das mais populares figuras da história da França. A jovem camponesa, à frente de um exército, conseguiu evitar a tomada da cidade de Orléans pelos ingleses. Não obstante, acusada de heresia, ela foi sacrificada na fogueira em Rouen.
Fim da Guerra dos Cem Anos
A partir de Joana d’Arc, a guerra pendeu favoravelmente para a França, tornando-se, para a Inglaterra, uma guerra de defesa e não de ataque. Os ingleses ainda detinham Paris e Rouen, porém, em 1435, perderam o apoio dos seus aliados, os borgonheses o que fragilizou ainda mais sua posição. Em 1436, os franceses recuperaram Paris e outras cidades nos anos seguintes.
Em julho de 1453, com a vitória francesa na Batalha de Castillon, a Coroa inglesa controlava apenas Calais. A Coroa Francesa prosseguiu então, através de uma estratégia mista de conquista e alianças matrimoniais, para reunir regiões como a Borgonha, a Provença e a Bretanha num Estado-nação que era mais rico e poderoso do que nunca.
Enquanto isso, a Inglaterra mergulhou na falência e na guerra civil. Henrique VI (reinado 1422-1461 e 1470-1471) sofreu ataques de insanidade e seu reinado fraco finalmente chegou ao fim quando ele foi assassinado na Torre de Londres, em maio de 1471.
A guerra só se encerrou definitivamente em 1475 pelo Tratado de Picquigny pelo qual a França reconquistou todos seus territórios, exceto Calais.
Conjuntura histórica: crise, medo e peste
A Guerra dos Cem Anos ocorreu em uma época de crises e dificuldades. No plano econômico, a difusão da moeda, por força do desenvolvimento urbano, abalou a poderosa classe dos senhores feudais. Em decadência, muito senhores procuraram na guerra ou no banditismo, uma nova fonte de lucro, formando grupos de mercenários e colocando-se a serviço de reis e de cidades, ou então agindo por conta própria.
Nessa época ocorrreu, também, uma das mais graves rebeliões de camponeses franceses, a Jacquerie (maio-junho de 1358), dirigida contra a nobreza e de espantosa brutalidade. Milhares de camponesas pilharam casas e mataram centenas de pessoas.
Do ponto de vista religioso, as pessoas viviam sob o sentimento do medo e do pecado. O medo da punição divina provocava manifestações de autoflagelação. Centenas de fiéis, de ambos os sexos, de todas condições sociais e idades, andavam pelas ruas açoitando-se uns aos outros, cantando hinos e salmos.
As epidemias contribuíram, por sua vez, para fazer desse período uma das fases mais sombrias do Ocidente europeu. A mais mortífera e devastadora epidemia dessa época, a Peste Negra, eliminou cerca de um terço da população europeia.
Consequências da Guerra dos Cem Anos
Algumas das consequênciass da guerra para a França e a Inglaterra foram a centralização do governo, o aumento da eficiência burocrática e um sistema fiscal mais regulamentado. A tecnologia militar desenvolveu-se ao longo do período, nomeadamente a utilização de armas de pólvora mais eficientes e a adaptação de castelos e cidades fortificadas para fazer face a esta ameaça. No final da guerra, Carlos VII criou o primeiro exército real permanente da França.
Na Inglaterra, o Parlamento fortaleceu-se e tornou-se decisivo na aprovação de cada novo imposto real, o que mais tarde o ajudaria a restringir os poderes dos monarcas absolutos. Houve também uma diplomacia mais profissional entre as nações europeias.
Finalmente, um conflito tão longo contra um inimigo claramente identificável resultou na criação de um sentimento muito maior de pertencimento a uma única nação pelas populações inglesas e francesas. Também foram criados heróis como Joana d’Arc e Henrique V que, ainda hoje, são tidos como os melhores exemplos de nacionalidade nos seus respectivos países.
Saiba mais / Recursos relacionados
- Joana d’Arc queimada viva em Rouen.
- Formação das monarquias nacionais. Mapa mental para preencher
- Inglaterra: do absolutismo às Revoluções do séc. XVII. Mapa mental para preencher.
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