Sincretismo é uma mistura de influências. O termo, derivado do grego synkrestismós significando “reunião de vários Estados cretenses”, foi inicialmente aplicado a uma coalizão de guerra. O termo, contudo, estendeu-se passando a designar todas as formas de cruzamento de diferentes ideias ou filosofias, religiões ou costumes religiosos, arte e cultura.
No Brasil, o conceito de sincretismo foi utilizado, basicamente, para analisar as relações entre o catolicismo português e as manifestações religiosas de origem africana. No início do século XX, o antropólogo e etnólogo Nina Rodrigues foi primeiro a destacar o sincretismo entre o catolicismo e as religiões africanas. Sua obra Os Africanos no Brasil, (1905), sob uma perspectiva de ideias racistas que vigoravam na época, analisa a mistura de raças na sociedade brasileira como fator negativo, perigoso e “cientificamente condenável” devido a “inferioridade” dos negros.
Mais tarde, o sociólogo Gilberto Freyre apresentou outra teoria em sua obra Casa Grande & Senzala (1933. Para ele, a miscigenação racial e o sincretismo religioso foram positivos na formação da sociedade brasileira, afirmando que a religião era um ponto de confraternização entre as duas culturas. Suas ideias consolidaram o mito da “democracia racial”.
O sociólogo francês Roger Bastide estudou as religiões afro-brasileiras e, em sua obra O candomblé da Bahia (1958), demonstrou como o sincretismo foi capaz de criar diferentes combinações religiosas. Identificou analogias diversas entre os deuses africanos e os santos católicos, analogias que mudavam conforme a região.
O trabalho da historiadora Laura de Mello e Souza, O diabo e a Terra de Santa Cruz (1986) alargou o sincretismo ao mostrar as contribuições culturais de indígenas, negros e elementos judaicos para a formação da religiosidade popular da população colonial.
O historiador Ronaldo Vainfas, em A heresia dos índios (1995) destacou a complexidade das trocas culturais na colônia capaz de fomentar, na Bahia do século XVI, um movimento católico-tupinambá de resistência à dominação colonial.
Enfim, a questão do sincretismo na formação da sociedade brasileira é um tema ainda aberto a futuras investigações historiográficas.
Fonte
- HARMANN, Jacqueline. História das religiões e religiosidade. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
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