“Ao contrário do que revela a iconografia, marcou o sistema [escravista] um verdadeiro toma lá dá cá, em que a escalada da violência da escravidão foi acompanhada pela mesma proporção na reação. Revoltas e insurreições sempre existiram, sendo algumas individuais – como os assassinatos, envenenamentos, suicídios e até abortos; outras mais coletivas. Uma das modalidades mais temidas foi a revolta aberta; movimentos em que escravos planejavam ações de invasão de vilas, cadeias; ataques aos engenhos e/ou forças coloniais e imperiais.
(…) sabemos muita coisa sobre a Revolta dos Malês (1835), no coração urbano de Salvador, que mobilizou fundamentalmente africanos islamizados. Considerada a maior no Brasil essa revolta assustou sobremaneira a elite política imperial (…).
Há mais de duas dúzias de outras importantes insurreições desde o século XVII, como aquelas ocorridas nos engenhos baianos e pernambucanos. Temos revoltas em Porto Calvo em 1575, e mesmo levantes de vários engenhos baianos nos anos 1660. Ainda na Bahia seiscentista, dá-se a eclosão das chamadas “santidades”, que seriam ações de fugas coletivas, rebeliões de indígenas e africanos em parte informadas por dimensões messiânicas e milenaristas, produtos de visões sincretizadas das religiões coloniais e da ação da Igreja católica.
Em Minas Gerais, entre 1711 e 1756, quase uma dúzia de planos de revoltas foram descobertos, inclusive denunciados devido às divergências que estouraram entre africanos ocidentais (os minas) e africanos centrais (os angolas).
Na primeira metade do século XIX, revoltas escravas apareceram por toda parte; desde as que assolaram Salvador de 1801 a 1844, como as revoltas de Carrancas (MG, 1833), São Carlos (Campinas, 1832), Manoel Congo (Vassouras, província do Rio de Janeiro, 1838).
Contando com conexões internacionais, muitos rumores e denúncias, se destaca a revolta de Queimados (ES, 1849), quando cativos acreditaram que seriam alforriados por conta de uma intervenção da Inglaterra. Há também a revolta do Serro (em Minas Gerais, no ano de 1864) e a de Viana que estourou no Maranhão em 1867.
(…) No contexto da independência (de 1822 a 1831), vários boatos sobre rebeliões desse tipo estouraram no Rio de Janeiro, Salvador e em Cametá – vila próxima a Belém, na província do Grão-Pará – contando com a participação escrava. Escravizados também tomariam parte – com atuações muito próprias – de diversas revoltas de setores livres, muitas vezes pobres, urbanos e camponeses. Os maiores exemplos ocorreram no período das revoltas regenciais. No Maranhão, o liberto Cosme comandaria junto com milhares de escravizados a maior revolta camponesa conhecida como a Balaiada.”
Fonte
- SCHWARCZ, Lilia M. e GOMES, Flávio (orgs). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letas, 2018, p. 30-31.
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