O QUE É... Capitanias Hereditárias

Capitania ou donataria era o nome de uma larga faixa de terra entregue pelo rei a um particular, em geral um nobre ou um burguês rico, que passava a ter o título de capitão-donatário, com o objetivo de povoar a terra, torná-la produtiva e defendê-la de invasões e ataques estrangeiros.

O sistema de capitanias já havia sido adotado, no século XV, pela Coroa portuguesa em suas colônias na costa africana: as ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Em 1571, foi criada a capitania de Angola, na África.

O sistema mostrou-se vantajoso para a Coroa pois permitia explorar as terras descobertas sem grandes custos, já que boa parte deles era transferido para os capitães-donatários.

Direitos e deveres dos capitães-donatários

Os direitos e deveres dos capitães-donatários vinham prescritos em dois documentos: a Carta de Doação e o Foral.

A capitania não era propriedade do capitão-donatário, este era proibido de vendê-la, alugá-la e dividi-la. Podia, porém, legar a capitania ao filho mais velho, ou seja, a capitania era hereditária. O direito de hereditariedade era uma maneira de atrair os capitães, aos quais o rei fazia enorme exigências.

Eram funções dos capitães-donatários:

  • Fundar povoações e vilas.
  • Nomear funcionários e responsabilizar-se por seus proventos (rendas).
  • Distribuir sesmarias (lotes de terra) a colonos ou colonas que se comprometiam a cultivá-las.
  • Fiscalizar a cobrança de impostos e taxas devidos à Coroa.
  • Defender a terra de invasões e ataques piratas e indígenas.

Eram direitos dos capitães-donatários:

  • Usufruir dos benefícios da administração e da exploração da terra.
  • Receber a vintena (5%) de todo pescado e do pau-brasil extraído,
  • Receber 10% das pedras preciosas e ouro descobertos.
  • Escolher para si uma sesmaria cujo tamanho podia variar de 10 a 16 léguas.

Ao rei cabia o quinto (20%) do ouro e pedras preciosas, o monopólio do pau-brasil, o dízimo de todos produtos da terra, as taxas alfandegárias sobre todo comércio da colônia.

Divisão do Brasil em capitanias

A primeira capitania do Brasil foi a Ilha de São João (atual Fernando de Noronha) concedida, em 1504, por D. Manuel a Fernão de Noronha, um rico comerciante e armador português. Ele obteve da Coroa um contrato para exploração de pau-brasil nas terras recém-descobertas.

Entre 1534 e 1536, D. João III criou 12 capitanias hereditárias. Este número, porém, não se manteve: houve subdivisão de capitanias, criação de outras e incorporação de uma capitania a outra.

Capitanias Hereditárias em dois mapas diferentes: de Luís Teixeira, c. 1574 (à esquerda) e proposto pelo pesquisador Jorge Pimentel Cintra, 2013 (à direita).

Sucesso e fracasso das capitanias

As capitanias de Pernambuco e São Vicente tiveram êxito político e econômico. Nelas prosperou a lavoura de cana-de-açúcar e seus respectivos donatários, Duarte Coelho e os representantes de Martim Afonso de Souza, conseguiram conservar os seus colonos e estabelecer alianças com os indígenas.

A maioria das capitanias, porém, não teve sucesso. As dificuldades eram maiores do que os donatários imaginaram. Muitos nem chegaram a tomar posse de suas terras. Entre as causas do fracasso estão:

  • Difícil adaptação às condições climáticas e a um tipo de vida diferente do existente na Europa.
  • Alto custo do investimento, que não trazia um retorno imediato.
  • Falta de recursos humanos, por parte dos donatários, para desenvolver os lotes.
  • Ataques das tribos indígenas e de corsários estrangeiros, assim como as disputas internas e dificuldades na aplicação da Justiça.
  • Falta de comunicação e de articulação entre as diversas capitanias pelas enormes distâncias entre si, e entre elas e a metrópole.
  • Ausência de uma autoridade central (governo) que amparasse localmente as Capitanias, referente à economia, justiça e segurança.

Mesmo assim, o sistema de capitanias cumpriu o objetivo de preservar a posse da terra para Portugal e lançou os fundamentos da colonização. O sistema sofreu alterações com a criação do Governo Geral em 1548 e com seguidas divisões da colônia em dois governos autônomos.

As capitanias hereditárias só foram extintas em 1753, quase duzentos anos depois de sua criação.

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